quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Treinando a Mente - Meditação Dogmática

A meditação dogmática é a “meditação no ensino da palavra” por excelência. É o recurso de tomar o ensino bíblico sobre um tema e ruminar sobre o seu significado e implicações práticas e teológicas para a sua fé e vida.
Meditar dogmaticamente é o ato de trazer à mente doutrinas bíblicas e sobre elas considerar positivamente, procurando aplicar seu conteúdo ao seu dia-a-dia, tanto quanto, conhecer com mais profundidade aquela determinada área do conhecimento de Deus e sua vontade.
Esse método foi aplicado pelos servos de Deus e temos amostras claras do seu uso entre as personagens bíblicas, tanto quanto naquelas figuras históricas do cristianismo bíblico.
As mesmas considerações que fizemos no tema anterior “meditação ilustrativa” quanto à necessidade, bem como, a eficácia desse ato meditacional, com certeza podem ser aplicadas à meditação dogmática. Os mesmos critérios apontados para o homem do salmo 1, cuja vida era pautada pela Lei de Deus e nela buscava meditar, devem ser retomados agora na meditação dogmática.
Enquanto que na “meditação ilustrativa” nossa meditação partíamos de fora para dentro do nosso conhecimento adquirido da Lei de Deus (Toda a Escritura), ou seja, a realidade ao nosso redor nos fornecia os elementos meditacionais; na “meditação dogmática” é o conhecimento adquirido que nos leva a avaliar a realidade externa.
Em outras palavras, aquele conhecimento que você já possui em sua mente, muitas vezes apenas acumulado dentro do espectro mental, é a base da meditação dogmática. Na qual, o homem de Deus busca em sua mente uma doutrina aprendida e passa a considerá-la de uma maneira mais determinada e aprofundada.
Há vários estágios desse tipo de meditação, desde os mais simples até os mais aprofundados, nos quais, o servo de Deus se utiliza de recursos externos para a sua tarefa meditacional. Procuraremos trabalhar com esses elementos, fazendo pequenas simulações para exemplificar o método.
Antes de partirmos para a obra de simulação do método, deixe-me considerar duas coisas antes: a primeira é a inspiração desse método no trabalho dos teólogos sistemáticos; a outra consideração é quanto aos exemplos bíblicos de aplicação dessa rotina meditacional.
Na verdade, os teólogos sistemáticos não inventaram um método de estudo, mas reeditaram um método apresentado nas Escrituras, dando-lhe forma. Não buscarei adentrar nas questões históricas desse método de estudo da Palavra, apenas me referir ao conceito geral do mesmo.
A Teologia Sistemática é tradicionalmente conhecida como aquela atividade teológica de agrupar o conhecimento teológico debaixo de grandes temas e desenvolver doutrinariamente cada um deles. Por exemplo: o teólogo sistemático, estabelece um sistema de estudo da doutrina da salvação (soteriologia) e procura, então, definir os termos, selecionar os aspectos construtores desse conhecimento e depois estruturar a doutrina embasando-a a partir das diversas afirmações bíblicas que compõem esse tema.
Dessa forma, quando você toma um livro de Teologia Sistemática, você poderá identificar tudo o que aquele autor compilou sobre determinada doutrina dentro daquele tópico. Evidentemente, os estilos são diversos, mas em geral é assim que um Teólogo Sistemático trabalha.
A Bíblia não é um livro de Teologia Sistemática, embora seja ela a fonte da qual os sistemas teológicos dependem.
Entretanto, personagens bíblicos e mesmo os seus escritores, muitas vezes fazem uso dessa lógica sistemática para expor a Palavra de Deus e fazer suas afirmações de fé, a respeito de Deus e sua vontade.
Faço lembrar aqui que partimos do pressuposto de crença na Inspiração e Inerrância das Escrituras, de forma que o labor teológico dos escritores bíblicos também são labores revelacionais do Espírito Santo, assim, nisto diferem completamente dos teólogos sistemáticos, cujos sistemas são derivados e não fonte de revelação divina. Portanto, o labor dos teólogos sistemáticos podem apresentar falhas, porém o dos escritores bíblicos não.

Exemplos Bíblicos de Meditação Dogmática
Procuraremos selecionar alguns exemplos bíblicos para ilustrar esse tópico, nos diversos tipos de literatura bíblica, desde o período inicial até as páginas do Novo Testamento.
O primeiros exemplo que tomaremos vem do Pentateuco, o Cântico de Moisés, em Deuteronômio 32. Quero considerar que devamos procurar construir o pensamento a respeito de como esse cântico foi construído na mente de Moisés.
Uma das coisas que notamos no início deste cântico é que Moisés conclama Israel a ouvir e considerar (“meditar”) naquela formulação que ele apresentava ao povo, acerca do Nome do SENHOR. Ele diz que aquelas palavras eram a sua “doutrina” sobre o Nome do SENHOR.
“Inclinai os ouvidos, ó céus, e falarei; ouça a terra as palavras da minha boca. Goteje a minha doutrina como a chuva, destile a minha palavra como o orvalho, como chuvisco sobre a relva e como gotas de água sobre a erva. Porque proclamarei o nome do SENHOR. Engrandecei o nosso Deus” (Deuteronômio 32.1 a 3).
 Com essas palavras Moisés exige, de maneira poética a máxima atenção ao que ele irá fazer. Portanto, o que Moisés irá falar ele já tem conhecimento, e sabe o que irá dizer antes de o comunicar aos filhos de Israel. O seu intento é que eles conheçam essa doutrina e meditando nela venham a engrandecer o seu Deus. 
Isto necessariamente aponta para o fato de que ele havia permanecido algum tempo pensando nessas coisas e construindo o seu pensamento sobre esse assunto. Agora, então, o que temos registrado em Deuteronômio 32 é o resultado do período de meditação de Moisés no ser e na obra de Deus.
O tema de sua meditação pode ser encontrado no verso 4:
“Eis a Rocha! Suas obras são perfeitas, porque todos os seus caminhos são juízo; Deus é fidelidade, e não há nele injustiça; é justo e reto”.
Moisés estava meditando na História de Jehovah com Israel, a quem Ele tirou do Egito e como Israel procedeu neciamente para com o seu Deus. Não atentaram para a sua fidelidade e abandanoram o Senhor para buscar a outros deuses. Esqueceram-se da Lei do Senhor e adoraram aos deuses dos povos. Por isso, Deus se vingou de boa parte deles no próprio deserto e os rejeitou, porque não pode conviver com a infidelidade, aquele que é Fiel.
Não iremos nos delongar em analisar todo “Cântico de Moisés”, desejamos apenas destacar o fato de que ele meditou sobre a fidelidade de Deus e sua retidão, e fez aplicação necessária para compreender a história de Israel naqueles anos no deserto, bem como, procurou aplicar isso à vida do povo de Deus.
Os versos finais do capítulo nos ajudam a compreender que a meditação dogmática de Moisés o levou à conclusões práticas sobre a vida de Israel e aos devidos afazeres decorrentes das considerações teológicas abordadas.
“Tendo Moisés falado todas estas palavras a todo o Israel, disse-lhes: Aplicai o coração a todas as palavras que, hoje, testifico entre vós, para que ordeneis a vossos filhos que cuidem de cumprir todas as palavras desta lei. Porque esta palavra não é para vós outras coisa vã; antes, é a vossa vida; e, por esta mesma palavra, prolongareis os dias na terra à qual, passando o Jordão, ides para a possuir” (Deuteronômio 32. 45 a 47).
Aqui podemos notar que os autores bíblicos tinham a prática de meditar em Deus, no seu ser e obras, ruminar nas implicações dessas verdades, conhecer o relacionamento que tinham com esse Deus e aplicar à sua vida, como forma de crescimento pessoal.
A meditação dogmática tem como objetivo uma aplicação final que faça com que a verdade, às vezes, apenas armazenada na mente, seja aprofundada e comece a fazer o papel transformador do nosso caráter, como deve acontecer com todas as verdades da Escritura.
Outro exemplo que iremos tomar vem dos Salmos. No caso, um Salmo de Asafe, o de número 73.
Neste texto maravilhoso, o salmista Asafe medita na bondade de Deus e como Ele se relaciona com os justos (os de coração limpo). O salmista declara que ele não compreendia muito bem a prosperidade dos ímpios e, às desventuras dos justos, até que sua meditação o levou à uma conclusão maravilhosa, ele atentou para o fim de todas as coisas e como Deus tem sempre um futuro melhor para os que o temem.
No verso 16, ele faz a seguinte declaração:
“Em só refletir para compreender isso, achei mui pesada tarefa para mim; até que entrei no santuário de Deus e atinei com o fim deles” (Salmo 73.16 e 17).
Facilmente podemos notar que a construção desse salmo aconteceu em uma meditação dogmática sobre Deus e suas obras, principalmente a bondade de Deus para com os homens.
Asafe, declara que pensava nestas coisas e, ao que parece, o fazia enquanto se dirigia ao Templo. Quando ele adentrou ao Templo, sua mente recebeu luz e ele meditou sobre o fim de todas as coisas e logo o seu pensamento foi encaminhado à glória de Deus.
Você poderá ler o Salmo e perceber com mais detalhes a mudança na mente desse homem que meditou na bondade do Senhor. A ponto de no final ele resumir suas conclusões da seguinte maneira:
“Os que se afastam de ti, eis que perecem; tu destróis todos os que são infiéis para contigo. Quanto a mim, bom é estar junto a Deus; no SENHOR Deus ponho o meu refúgio, para proclamar todos os seus feitos” (Salmo 73.27 e 28).
Entre os escritos dos profetas de Israel temos muitos exemplos da prática da meditação dogmática. Um bom exemplo vem de Jeremias, no seu livro, conhecido como “Lamentações de Jeremias”.
Neste livro, o profeta Jeremias enfrenta um tempo muito difícil da vida da nação Israelita que fora levada ao cativeiro. Lá, viu a aflição do povo de Deus e as muitas amarguras pelas quais passou nas mãos dos seus opressores.
Jeremias se viu em um estado de desânimo profundo. No capítulo 3, ele diz que sua alma estava sem esperança, ou quase sem esperança. É pede a Deus que alguma coisa lhe sirva à mente para recuperar o vigor da fé. Sua mente se reencontra com a meditação na “Misericórdia do Senhor” e, assim, o profeta se levanta de seu estado de desesperança e recupera o estado de fé.
“Quero trazer à memória o que me pode dar esperança. As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade” (Lamentações 3.21 a 23).
Como podemos observar, o profeta reflete nas virtudes do SENHOR e esta meditação o conduziu a um relacionamento diferenciado com Deus em um momento de profundo sofrimento.
Como exemplo do Novo Testamento, iremos tomar a carta de Paulo aos Romanos. Esse é o mais complexo escrito paulino, considerado por muitos como sendo uma verdadeira obra teológica dos tempos apostólicos.
Não cremos que Paulo tinha essa pretensão, ou seja, a de escrever um tratado teológico sobre a justificação-santificação para os crentes de Roma. Mas, como lhe era peculiar, procurava vivenciar e compartilhar a fé de modo prático. Mas, sendo essa uma carta sem uma proposta clara de cunho apologético, como encontramos em outras, o apóstolo se sentiu mais a vontade para escrever de uma maneira diferenciada e mais livre sobre Deus e sua obra salvacionista.
Não teremos espaço aqui para uma abordagem mais pormenorizada carta. No entanto, o leitor poderá fazê-lo, pois é de excelente conforto o modo como Paulo apresenta suas considerações teológicas em Romanos.
Uma leitura rápida da carta sugerirá que a primeira parte da carta tem um caráter meditacional intenso, pois nela, Paulo rumina sobre diversos aspectos teológicos sobre os efeitos do pecado, a situação do pecador e como Deus age graciosamente para salvá-lo, justificando-o em Cristo Jesus.
O apóstolo usa exemplos do Velho Testamento, meditando no modo como Deus se relacionou com Abraão, analisa a vida do pecador que deseja fazer o bem, mas não consegue e, portanto, não pode ser salvo por suas obras. No final, o apóstolo medita na misericórdia que Deus utilizou para com os homens.
Não cremos que seja errado considerar que esta parte inicial da carta seja o produto da meditação do apóstolo sobre a obra de Deus, especialmente quando ele conclui esta parte com uma maravilhosa doxologia:
“Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os teus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém” (Romanos 11.33 a 36).
Evidentemente, para Paulo era uma grande alegria espiritual conhecer a Deus e perscrutar a sabedoria de Deus, revelada na graça de Jesus. Disso, o apóstolo imediatamente tira lições e aplica aos seus leitores, dizendo que eles deveriam mostrar essa obra de Deus na vida deles, buscando a renovação da sua própria mente.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Treinando a Mente - Meditação Ilustrativa

Iniciaremos outro aspecto das nossas considerações sobre treinamento da mente através da meditação, pontuando sobre um tipo de meditação que foi praticada e incentivada nas Escrituras, a qual é, ao mesmo tempo, precisa ser criteriosamente aplicada para que não seja corrompida e se torne em meditação mística. Trata-se da “meditação ilustrativa”
A “meditação ilustrativa” é o nome que eu aplico para aquele tipo de meditação bíblica que parte da observação da existência, funcionamento, propósito e dinâmicas de coisas naturais, fazendo uma clara aplicação ao conhecimento das coisas espirituais de forma bíblica.
Há alguns exemplos de como isso foi proposto na Escritura. Entre os mais famosos temos aquela parte do Sermão da Montanha, em que Jesus pede aos seus discípulos que “olhem as aves dos céus” e “olhem os lírios do campo”. Ele considera sua existência e sobrevivência e faz uma reflexão sobre o cuidado de Deus para com os discípulos.
Ele diz que Deus cuida destes seres tão frágeis e, de certa forma, tão menores que os homens, pedindo a eles que meditem sobre os aspectos fundamentais do cuidado de Deus para com os seus discípulos.
Observai as aves dos céus: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves” (Mateus 6.26)?
Outra ilustração natural que serviu como elemento para a meditação nas coisas de Deus foi aquela registrada no livro de Jeremias, capítulo 18. 1 a 6.
“Dispõe-te e desce à casa do oleiro, e lá ouvirás as minhas palavras. Desci à casa do oleiro, e eis que ele estava entregue à sua obra sobre as rodas. Como o vaso que o oleiro fazia de barro se estragou na mão, tornou a fazer dele outro vaso, segundo bem lhe pareceu” Jeremias 18.2 a 4.
Como você deve saber o final da história, o oleiro, o vaso, o barro e tudo naquela cena natural foi utilizada por Deus para propor a Jeremias que meditasse nas coisas que Ele, Deus, haveria de fazer em relação ao seu povo.
Os salmistas utilizaram muito destas ilustrações para meditar nas coisas de Deus, na sua majestade, no seu amor, no dever dos homens para com Ele etc. São vívidas as passagens que falam do pastor de ovelhas, das corsas que buscam pelas águas, das chuvas, dos pássaros que buscam abrigo etc.
Esse tipo de meditação é extremamente proveitoso para o treinamento da nossa mente, pois cenas naturais que podem ser utilizadas para considerações espirituais acontecem constantemente em nossa vida. Todos os dias e, com certeza em grande quantidade, podem ser detectadas por todos nós.
Além de muito freqüentes elas também são poderosas no treinamento de nossas mentes pois tornam o conhecimento de Deus muitíssimo prático para todos nós. Pois estabelecem uma sinapse direta entre o conteúdo, o significado e a prática.
O uso deste recurso treina a nossa mente a pensar em Deus mais constantemente, pois, sendo tão ricas e contínuas a ocorrências de situações ilustrativas, mais agilmente somos tomados pelos insights de meditação em Deus. Ao mesmo tempo, ela torna a nossa evangelização mais ilustrativa sobre Deus, pois nos permite, como Jesus fez em relação às parábolas, apresentar a mensagem do Evangelho de uma maneira mais ilustrativamente clara para os descrentes.
Mas, apesar de tantos benefícios, devemos permanecer alertas pois, este tipo de meditação pode carregar um perigo enorme e devemos tomar muito cuidado. O perigo gritante desse método é de fazer falsas referências espirituais de coisas naturais.
Falsos mestres aproveitaram a prática escriturística da meditação ilustrativa e fizeram analogias espirituais inapropriadas,  criando assim doutrinas falsas, segundo os seus próprios interesses. Um bom exemplo desse tipo de abuso são as ilustrações utilizadas pelos proponentes da Teologia da Prosperidade. Exemplo: um leão corre atrás de uma presa e a toma sem dó. Bem isso, poderia significar você orando, isto é, você vai diante de Deus como fome do que quer e toma da mão de Deus sem dó (é simplista o exemplo, mas não se assuste se alguém o utilizar por aí!).
Para se defender desse erro você deve lembrar a regra básica da meditação bíblica: meditação bíblica é sempre baseada e derivada do conteúdo bíblico.
Certamente, nenhuma ilustração sem apoio das Escrituras terá lugar na vida de aproximação com Deus. Você só conseguirá meditar ilustrativamente de forma bíblica se o conteúdo bíblico conduzir o modo e o resultado da sua prática meditativa.
Portanto o que produzirá conteúdo à sua meditação é seu conhecimento das Escrituras. Na verdade, você está apenas sendo tomado pela cenografia que ilustra o ensino bíblico que você carrega em seu coração. O papel da ilustração é dar cara viva ao conteúdo bíblico, muitas vezes superficial, que você já possui, fixando-o e tornando-o arraigado ou mais arraigado em sua mente.
Um exemplo que posso dar a todos aconteceu-me outro dia: sou o responsável por colocar comida para a cachorrinha que temos. Um certo dia, cheguei muito tarde e cansado em casa. Apenas tomei um banho e fui dormir. Naquele dia, por vinte e quatro horas, a cachorrinha ficou sem comer. No outro dia, eu lembrei do meu erro e fui correndo colocar comida para ela. Cheguei na parte do quintal que lhe é separado com um pode de ração, sabendo que ela devia estar com muita fome. A minha surpresa foi que ela, pelo que mostrou depois, estava com muita fome, no entanto, no momento em que me aproximei, ela estava mais interessada em curtir a minha presença amiga de dono, pegou bolinha para eu jogar, abanou o rabo, pulou etc.
Refletindo sobre isso, posteriormente pensei sobre o modo como nós, filhos de Deus, amigos de Cristo, somos mesquinhos e, nos deixamos fixar muito mais nas coisas que Ele nos dá, que naquilo que Ele é para nós. Fiquei muito envergonhado e orei pedindo a Deus que me perdoasse por todas as vezes em que não fiz como a minha cadelinha fez comigo.
Creio que todos vocês compreenderam o perigo e o mecanismo para fugir deste erro grosseiro. Espero, sinceramente, que ninguém jogue fora a possibilidade dessa meditação ilustrativa e seus benefícios por um excesso de escrúpulos, produzido pelo perigo que foi aqui mencionado.
Um outro aspecto interessante sobre “meditação ilustrativa” é que o ideal não é que ela venha de forma forçada, mas seja produzida como que pelo próprio Espírito Santo em nossa mente.
Trabalho com muito cuidado com isso e sei que o próprio linguajar, às vezes, tem algumas imprecisões. O que tento fazê-los entender é que, muitos, conhecendo essa possibilidade, começam a olhar para tudo ao seu redor e parar e tentar promover uma meditação ilustrativa. Esse tipo de atitude esvazia as possibilidades de resultado agregador da meditação, pois a banaliza e escraviza.
Os salmista dizia que ele meditava nas horas da noite, Jesus tomava exemplos fortuitos, de repente. Na verdade, a melhor maneira disso acontecer é pela espontaneidade do Espírito, ou seja, de repente, somos tomados pelo ímpeto de meditar em algo que acontece. Sem um planejamento, mas como uma comoção da alma que um desígnio da mente.
Estou dizendo que assim ela é mais proveitosa, não que não o possa ser, quando deliberadamente me devoto a fazê-lo. A questão é que a espontaneidade reforça a pureza do ato.
Em suma, o que é importante é que ela não seja dissociada da Palavra de Deus e seu ensino perfeito.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Treinando a Mente Pela Meditação na Lei de Deus

Salmo 1.2

"Antes o seu prazer está na Lei do SENHOR e na sua Lei, medita de dia e de noite"


Introdução
A mais comum imagem do cristão é daquele homem ou mulher que vai à igreja. Esse é um quadro completamente distorcido e impreciso do que realmente vem a ser um servo a quem o Senhor está redimindo.
Certamente, o homem ou a mulher que vai à igreja está em um caminho muito melhor que aquelas pessoas que não se importam com o que Deus requer delas. Mas, o “ir à igreja” não é um sinal de que a redenção está se operando eficazmente em sua vida.
Não obstante, ajude bastante para que você cresça na direção de um aperfeiçoamento redencional, o “ir à igreja” não é um termômetro confiável de que a obra da Redenção está se expandindo em seu coração.
Temos enfatizado que a mudança da mente é o ponto central de início e expansão dessa obra redencional em nós. Entretanto, quando a mente verdadeiramente é alcançada redencionalmente, ela logo nos levará a um modelo de vida que nos impele a um tipo de cristianismo contínuo e mais aprofundado. Enquanto isso não acontece, mantemo-nos como o próprio Paulo descreveu: crianças espirituais.
A mente precisa ser treinada. Uma das características que se requer para esse treinamento é a disciplina, da qual tratamos no momento em que abordamos as decisões de Jonathan Edwards.
A decisão de disciplinar-se mentalmente para uma busca redencional, logo produzirá efeitos e o principal deles é o desejo de crescer na graça e viver mais intensamente o contato com Deus. Esse desejo se transformará em crescimento à medida que começarmos a pensar nas coisas lá do alto e nos libertarmos conscientemente da vida intra-mundanizada.
Para essa mudança na maneira de pensar temos como recursos maravilhosos os meios de graça, quais sejam, oração e palavra, como metodologia primordial para enriquecimento e treinamento da mente.
Iremos abordar, em primeiro plano, a Palavra. Nela, inicialmente, faremos uma consideração sobre o que diz o Salmo primeiro: “...antes o seu prazer está na Lei do Senhor e nela medita de dia e de noite”.

MEDITAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE APROFUNDAMENTO DA FÉ NO SENHOR
Obviamente, quando falamos em meditação, muitas pessoas tendem a ter um certo receio, pois logo fazem a associação com as práticas ocultistas e místicas das religiões orientais ou da nova-era. Certamente, não é deste tipo de meditação que estamos falando, por isso, mais à frente pretendemos oferecer uma pequena definição do que é meditar na Lei do Senhor.
Antes, entretanto, iremos abordar o fato bíblico da meditação. Pois a escritura não trata a meditação apenas como uma opção para o crescimento espiritual, ao contrário, ela a promove como instrumento fundamental para  a vida de comunhão com Deus e frutificação.
No salmo primeiro, emblematicamente, o Salmista segue a proposta geral de diferenciação entre a semente de Deus (o homem justo) e a semente do Diabo (o homem ímpio) e destaca que o que o justo faz para não andar no caminho do ímpio é ter prazer na lei do Senhor, meditando nela dia e noite.
“Antes o seu prazer está na Lei do Senhor, e na sua Lei medita de dia e noite” - Salmo 1.2.
O salmista identifica o meditar na Lei de Deus como a arma poderosa para impedir que o homem de Deus ante no caminho do ímpio, como faz referência no verso 1. Ele anota que esse meditar nasce de uma visão positiva da Lei do Senhor, pois o prazer deste justo repousa sobre ela, o que possivelmente, gera uma experiência também positiva, pois o início do verso 1, diz que o resultado dessa postura é a bem-aventurança.
Um texto que parece ecoar neste salmo é Josué 1.7 e 8. Ali, Jehovah encoraja o general hebreu a ser corajoso para fazer o que tem de fazer e criterioso para fazê-lo segundo os preceitos de Deus. Para tanto, o Senhor diz a Josué que deveria priorizar o conhecimento e auto-preenchimento com a Lei do Senhor.
“Tão somente sê forte e mui corajoso para teres o cuidado de fazer segundo toda a Lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não se desvie, nem para a direita nem para a esquerda, para que sejas bem-sucedido por onde quer que andares. Não cesses de falar deste livro da Lei, antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito, então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido” (Josué 1.7 e 8).
Seguindo esse mesmo caminho, podemos observar no Salmo 119, conhecido como “Salmo da Palavra”, recomenda a meditação como uma maneira de fazer aprofundar os efeitos da Palavra no Coração. 
“Guardo no coração a tua palavra, para não pecar contra ti” (Salmo 119.11).
“Meditarei nos teus preceitos e às tuas veredas terei respeito, terei prazer nos teus decretos; não me esquecerei da tua palavra” (Salmo 119.15 e 16).
Em todo o livro dos Salmos, que é, como expressou Calvino, “a anatomia de todas as partes da alma” teremos um grande número de afirmações diretas e indiretas sobre o valor da meditação na Palavra e em Deus como uma arma para o aprofundamento da fé e do apego a Deus e ao seu caminho.
A meditação na Palavra e em Deus (o que para mim, são a mesma coisa, pois meditar na Palavra é também meditar em Deus) produzem o efeito de tornar o conhecimento superficial que polui a mente humana em um crescimento arraigado nela.
Exemplifico isso de uma maneira negativa, mas que ilustra o que quero dizer: imagine que uma certa quantidade de poeira caiu sobre um lençol branco em sua cama. Imediatamente, você corre e aspira ou bate aquela poeira e ela não deixa vestígios. Esse é o conhecimento superficial de Deus que apenas polui a mente humana.
Mas imagine que você permita que aquela poeira permaneça sobre aquele lençol por alguns dias sem tocá-la. Depois de algumas semanas você resolve aspirar ou bater aquela poeira para fora, mas ela formou uma mancha. Esse mancha é o conhecimento arraigado de Deus.
A meditação produz isso, um arraigar do ensino bíblico sobre Deus, sua vontade, seus planos, considerações e desejos sobre nossa vida. Ela faz apegar ao nosso coração (mente) a Palavra que molda o que somos e nos transforma.

A DIFERENÇA ENTRE MEDITAÇÃO BÍBLICA E OUTRAS TIPOS DE MEDITAÇÕES.
Como já dissemos anteriormente, não devemos confundir a meditação bíblica com as práticas ocultistas das religiões místicas, quer orientais ou ocidentais, ligadas ao movimento da Nova Era.
A diferença primordial é que o conteúdo da meditação bíblica é o que a própria Bíblia diz, além de ser a meditação exclusiva em Deus.
“Antes o seu prazer está na Lei do Senhor, e na sua Lei medita de dia e noite” - Salmo 1.2.
O texto não deixa dúvidas de que a Lei de Deus é o objeto da meditação. A Lei de Deus, por sua vez, a voz do próprio Deus, o que, por simples consideração lógica significa que é meditar no que Deus diz.
Não descarto a eficácia de outras espécies de meditação como instrumentos de saúde física e mental. O próprio controle da respiração, sem nenhum conteúdo místico em si, já produz efeitos benéficos. Entretanto, elas não produzem o efeito que a meditação bíblica tem de transformar a mente do homem e fazê-la canalizar os intentos do coração na obra redencional de Deus.
As meditações do mundo oriental, em sua maioria quase absoluta, trabalham com  esvaziar-se da mente para que o homem, sem as rotinas mentais costumeiras, alcance um determinado estado mental de ruptura para que se una, conforme apregoam, ao “cosmos” e às energias emanadas dele.
Na meditação bíblica o homem não esvazia a sua mente, ele a preenche com o conteúdo revelado sobre Deus. Ele não busca primordialmente, auto-conhecimento, mas o conhecimento de Deus, e aquele que o Divino tem sobre o homem. Assim ele não conhece a si mesmo, mas aprende o que Deus conhece dele. Desta forma, conhece a si mesmo, sob o prisma de Deus, o que de fato é mais realista e proveitoso.
Veja no Salmo 39, como o salmista compreendia que a meditação o levaria a conhecer a si mesmo:
Esbraseou-se-me no peito o coração; enquanto eu meditava, ateou-se o fogo; então, disse eu com a minha própria língua: dá-me a conhecer, Senhor, o meu fim, e qual a soma dos meus dias, para que reconheça a minha fragilidade” (Salmo 39.3 e 4).