sexta-feira, 9 de março de 2012

Inteligência Redencional em Efésios - Capítulo 1


(Este material fez parte de uma exposição aos jovens da Igreja Presbiteriana de Vila Formosa no Acampamento de Carnaval de 2012)  
  
Efésios
O Mundo Numa Perspectitiva Cristocêntrica

Introdução
Estamos diante de uma das mais amadas cartas neo-testamentárias, a carta aos crentes de Éfeso. Nela, é possível verificar como a mente do apóstolo Paulo compreendeu o mistério da fé e identificou o cristianismo como um modelo de vida, o único que seria capaz de reconduzir o homem a Deus.
Quando uso o termo “cristianismo” aqui, não me reporto ao sistema religioso conhecido como “cristianismo” ou ao sistema social decorrente dele no mundo Ocidental, mas a uma estrutura de pensamento redencional, que tem Jesus Cristo no centro de todas as coisas.
Neste breve estudo, procuraremos expor esta visão paulina da cristocentricidade do mundo, o modo como Deus procura nos atrair para esta visão, a importância da Igreja neste contexto e os principais cuidados que devemos tomar para não sermos atraídos para outra estrutura de pensamento.

A Convergência do Universo em Cristo e a Estruturação da Nossa Mente Segundo Essa Convergência - Estudo do Capítulo UM
O texto é bastante complexo e precisa ser estudado com certo vagar. Verdadeiramente, livros inteiros podem ser escritos sobre cada um dos versos deste capítulo. Evidentemente, nós faremos um apanhado geral das verdades apresentadas neste trecho da carta, assim como faremos nos demais, procurando destacar os pontos principais de sua argumentação.
A Estrutura do Pensamento Corrompida
Antes de propriamente entrarmos na discussão do texto de Efésios, seria interessante que procurássemos discutir um pouco sobre o homem a quem a carta tenta alcançar, para que compreendamos a importância do argumento apresentado por Paulo.
O homem a quem a carta pretende alcançar é um ser humano preso a uma estrutura de pensamento corrompida, um homem completamente afetado pelo pecado, mas que agora deve se concentrar em uma mudança profunda deste paradigma, pois, estando em Cristo, precisa reestruturar o seu pensamento em Cristo Jesus.
Paulo chega a afirmar que o homem que vive segundo esta estrutura de pensamento corrompida está em estado de morte e, por isso, os crentes de Éfeso deveriam considerar o remodelar de sua vida, a partir do modo como enxergam o próprio universo ao seu redor. 
Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como também os demais (Efésios 2.1 a 3).
Mais adiante ele completa essa visão do homem caído e de sua estrutura de pensamento corrompida da seguinte forma:
Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração (Efésios 4. 17-18).
Falando um pouco sobre esta estrutura de pensamento corrompida, sem nos delongar demais neste ponto que apenas introdutório, seria interessante que considerássemos o homem ainda no Jardim do Éden em um ambiente sem pecado.
Quando o homem foi criado por Deus e colocado no Jardim do Éden, Deus deu ao homem uma capacidade maravilhosa de conhecê-lo. O homem foi criado como o único ser racional, capaz de conhecer a Deus por processos psíquicos, mentais e de operações racionais. Ou seja, quando Deus deu, por exemplo, alimento ao homem: de toda árvore do Jardim comereis livremente... Deus estava concedendo ao homem a oportunidade de, reconhecer a bondade de Deus, sua santa providência e tantos outros atributos maravilhosos de Deus naquela dádiva que lhe era dada. E Adão fazia isto! Ou seja, Adão, dentro dessa estrutura de pensamento santa, não conseguia ter pensamentos que não o conduzissem a Deus, ele não precisava lutar com qualquer outra coisa que o afastasse de Deus, pois tudo o fazia conhecer Deus mais intensamente a cada momento.
A esse processo mental estruturado em Deus, nós atribuímos o nome de “Conhecimento Verdadeiro”, fruto de uma “Justiça Original Perfeita”, que era uma natural inclinação para Deus.
Quando o pecado entrou no mundo afetou profundamente essa estrutura mental. Quando lhe foi oferecido o fruto da “Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal”, a estrutura do pensamento humano deixou de estar centrada em Deus e passou a centrar-se em si mesmo. Agora, os desejos e inclinações do homem não o ligavam mais a Deus. Quando ele comeu o fruto foi condenado a permanecer preso a essa nova estrutura de pensamento, sendo esta a grande penalidade imposta ao homem, ou seja, viver preso a uma estrutura de pensamento que o impedia de encontrar e conhecer a Deus verdadeiramente. Em outras palavras, a maior fonte de alegria do homem puro, fora perdida, que era o conhecer a Deus mais e mais.
Desde então, esta é a condição em que se encontra o homem. Contudo, por graça e misericórdia, Deus providenciou o mecanismo da Redenção. O mesmo Deus que condenou o homem a esta prisão mental à sua condição de pecado, de sempre caminhar na direção errada, providenciou uma maneira de libertar o homem desta condição e isto ocorreria pela satisfação da justiça divina, por meio da morte de Jesus, o redentor, para resumir um pouco a história.
Portanto, devemos considerar que a obra da Redenção é a libertação que Deus dá ao homem à estrutura de pensamento pecaminosa em que ele mesmo se meteu (Eclesiastes 7.29), concedendo-lhe a capacidade de voltar a concentrar-se em Deus, contudo, agora, através do Filho, o Redentor.
Resumindo, o projeto de Deus, em minha opinião,  incluindo a própria ocasião da queda de Adão, tem haver com o propósito “eterno” de Deus de fazer Seu Filho o Centro de Todas as Coisas.
Cristo o Centro de Todas as Coisas - Capítulo 1.1 a 14
Verdadeiramente, devemos considerar a Carta aos Efésios uma epístola de caráter redencional. Que tem como enfoque, fazer com que os crentes, que já foram redimidos, vivam em conformidade com este estado de liberdade.
Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro do Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados (Efésios 4.1).
Portanto, lembrai-vos de que, outrora, vós, gentios na carne, chamado incircuncisão por aqueles que se intitulam circuncisos, na carne, por mãos humanas, naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo. Mas, mas agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo (Efésios 2.11 a 13).
Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios e sim como sábios (Efésios 5.15).
Versos 1 e 2 - O alvo da carta
Começando no capítulo 1, versos 1 e 2, temos o curtíssimo prólogo da carta:
Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, aos santos que vivem em Éfeso e fiéis em Cristo Jesus, graça a vós outros e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.
Não nos delongando excessivamente nas explicações destes versos, para que não nos roubem tempo de estudar o parágrafo seguinte, do verso 3 a 14, quero apenas frisar alguns aspectos que apontam para o alvo do apóstolo.
Em primeiro lugar, quando ele se diz apóstolo de Cristo por vontade de Deus, está trabalhando com aquela reestruturação do universo em Deus, através de Cristo. Ele não disse apóstolo de Deus para pregar Cristo, ao contrário ele mostra que a intencionalidade da obra é tanto do Filho como do Pai e que ele representa diretamente o Filho, como apóstolo, pois veio para anunciar que Cristo é o Senhor.
Seguindo o conceito de John Piper sobre a importância de se enfatizar Cristo na pregação do Evangelho, acredito que esta também era a preocupação do apóstolo Paulo, uma vez que os judeus também aceitavam a idéia de Deus, contudo rejeitavam a Cristo. Esse é o ponto, as pessoas precisam estruturar o seu pensamento em Deus através de Cristo, pois este é o Mediador, ninguém vai ao Pai, sem o Filho.
Em segundo lugar, quero destacar nestes versos a visão que Paulo propõe do relacionamento dos crentes com a cidade em que vivem. Ele diz: aos santos que vivem em Éfeso.
Para o verbo “viver” Paulo preferiu o termo “ousia” à “zoeh”. “Ousia” é um termo mais profundo no sentido de apontar para a naturalidade de uma pessoa. Ou seja, ele estava dizendo que, eles eram naturais de Éfeso, o que tem o sentido de mostrar-lhes que havia uma ligação muito forte entre eles e a natureza da própria cidade.
Éfeso era uma cidade idólatra, arraigada em sua mentalidade estava os processos pagãos da idolatria dos sacrifícios humanos, da sensualidade do templo da Deus Diana e todos os outros desencontros do homem caído que, na busca de Deus, dele se desviava. Entretanto, Paulo diz que, dentre estas estruturas caídas, os crentes deveriam ser perceber “santos” isto é separados. Não somente isto, Deus os havia considerado de forma especial, ao lhes separar daquela turba perdida e fazê-los “fiéis em Cristo Jesus”, que contrasta agora com o “em Éfeso”.
Por fim, desejo apenas citar que o desejo do apóstolo Paulo é que eles cresçam nessa perspectiva diferente sobre quem são e como devem viver para este Deus em Cristo Jesus.
Versos 3 a 14 - A premissa fundamental
Nestes versos, o apóstolo Paulo trabalha com a construção da premissa fundamental da Carta, ou seja, mostrar que CRISTO É O CENTRO DE TODAS AS COISAS.
Ele constrói este pensamento da seguinte maneira. Primeiramente, ele bendiz a Deus o qual nos abençoou em Cristo.
Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo (verso 3).
Com essas palavras, claramente ele aponta para Cristo como o fundamento de todas as coisas que temos recebido de Deus. Ele qualifica o modo como deseja que os crentes compreendam as coisas que vai dizer, como “benção espiritual” de uma natureza que é superior às estruturas comuns do mundo em que vivemos, que, mesmo que não possam ser notadas fisicamente, devem ser concebidas, compreendidas e vivenciadas por aqueles que têm fé.
O texto que se segue é seguramente um das mais complexas construções bíblicas, mas tem alguns aspectos que podem ser destacados que nos auxiliam no entendimento.
Primeiramente, note os versos 4 a 10. Nestes versos você verá três personagens interagindo: os crentes -, Jesus Cristo - o Filho e Deus - o Pai. Estas personagens interagem da seguinte maneira:
· O Pai tem seus planos e os executa tendo o filho como seu instrumento de realização.
· O Filho se coloca totalmente nas mãos do Pai e cumpre cabalmente a sua vontade, sendo-lhe instrumento maleável nas mãos.
· Os crentes são passivamente o objetivo final das ações do Pai através do Filho.  
Este é o ponto central do parágrafo: Deus Pai, faz do Filho o centro de todas as coisas, essa é a grande bênção, que ele agora nos faz centrados em Cristo e toda a nossa esperança está nele, que é o Senhor.
A questão que se segue ao verso 10 é o resultado de tudo isto, ou seja, você perceberá, por exemplo no verso 11, que nós fomos feitos herança para Cristo, ou seja, ele herdou do Pai tudo, como nos diz o Salmo 2:
...Ele me disse: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei. Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por tua possessão (Salmo 2.7-8)


Um outro aspecto que toda essa passagem apresenta é que o fim de toda esta estruturação do universo em Cristo tem uma finalidade última: A GLÓRIA DE DEUS.
Já no verso 6, temos este propósito anunciado, mas é nos versos 12 a 14 que eles são expressos de uma maneira maravilhosa, envolvendo os crentes: a fim de sermos para o louvor da sua glória.
Com essas palavras, percebemos que a idéia geral que o texto apresenta é que todo o trabalho de Jesus Cristo visa fazer com que nós sejamos para o louvor da glória de Deus. Em minha opinião, o que estamos vendo descrito aqui é a simples retomada do Éden, ou seja, de alguma maneira a reestruturação do Universo e da nossa forma de pensar em Deus.
Nos versos finais deste trecho, podemos encontrar a provisão do Espírito Santo, como o agente que trabalhará as nossas mentes, porquanto os crentes ainda vivem em um mundo de estruturas corrompidas. A questão toda da carta girará em torno de como os crentes devem lutar para não serem contaminados pelo mundo ou cair nas armadilhas do pecado e de Satanás.
Versos 15 a 23 - Consciência cristã
Neste ponto, apresentada premissa fundamental, agora o apóstolo Paulo irá tratar a realidade dos crentes. Inicialmente, falando à eles sobre como ele, apóstolo, vê a importância de que eles tenham consciência da premissa fundamental, inclusive do papel da Igreja nessa estrutura redencional do pensamento.
 Vs 15 e 16
A oração pelos efésios e introduzida por uma palavra pastoral significativa:
Por isso, também eu, tendo ouvido a fé que há entre vós no Senhor Jesus e o amor para com todos os santos, não cesso de dar graças por vós, fazendo menção de vós nas minhas orações (versos 15 e 16).
Primeiro, devemos dizer que ele parte da premissa fundamental do trecho anterior para dizer que “por isso”, por causa do que acabei de dizer, reconhecendo que o que tenho ouvido falar de vocês mostram sua eleição, predestinação e adoção dou graças por que vocês alcançaram essa “maravilhosa graça da redenção”.
Um ponto interessante aqui seria: quais os sinais que Paulo identificou neles que o faz assim tão confiante de que eles são esses eleitos para a renovação da estrutura de pensamento? O ponto destacado por Paulo é: eles demonstram crer em Cristo e, isso é comprovado pelo amor que os tem tornado uma unidade com os demais irmãos separados.
O conteúdo da oração do apóstolo Paulo é, evidentemente, muito importante. Uma leitura completa e não dividida dos versos, dará um vislumbre mais completo. Em seguida, uma sequência mais particularizada de cada frase aumentará o entendimento do todo.
No geral, o conteúdo da oração de Paulo parece desejar que os crentes de Éfeso tenham consciência de quem é Cristo e o que representa para eles estarem ligados a Cristo. Esse ponto é de especial importância porque nos faz pensar sobre o que é mais importante em nossa relação com Deus, que é, Cristo como centro deste relacionamento.
Saindo um pouco do contexto de Efésios, mas girando em torno do mesmo tom de orientação, a carta aos Colossenses que tem uma aproximação muito grande com essa carta aos Efésios, tem um diferencial muito importante, que é um capítulo de exaltação de Cristo, logo depois de uma oração do apóstolo em favor dos colossenses:
Por esta razão, também nós, desde o dia que o ouvimos, não cessamos de orar por vós e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual; a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus; sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória, em toda perseverança e longanimidade; com alegria, dando graças ao Pai, que vos fez idôneos à parte que vos cabe na herança dos santos na luz (Colossenses 1.9 a 12).
Quando consideramos a proximidade temática das duas cartas e, percebemos que ele se vale do recurso de orar em favor de ambos grupos, seguindo uma mesma premissa, mas que na Carta aos Colossenses ele prefere abrir uma grande seção de exaltação de Cristo, acredito que este é um ponto fundamental de ambas orações, que Cristo deve ser compreendido como o centro de tudo e que ser um crente fiel exige um entendimento deste papel de Cristo.
Verso 17
Voltando ao texto de Efésios, olhemos parte a parte a oração do apóstolo Paulo.
Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele (verso 17).
Neste verso, podemos destacar alguns pontos importantes, por exemplo, novamente a idéia de que a relação com o Pai sempre está ligada à mediação de Jesus Cristo. Note que ele, roga que Deus conceda o espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, mas faz questão de incluir Jesus Cristo, como o filho amado do Senhor, e em uma relação de parecida com a nossa: Deus de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele Diz, que Deus é quem nos dá a bênção através do Senhorio de Cristo em nossa vida.
Outro aspecto deste verso é de suma importância sobre a visão de Paulo de como o crente deve agir na relação com Deus. Você percebe que o objetivo da oração é que os crentes tenham sabedoria e pleno conhecimento (pneuma sofias e apocalipseos em epignosei). Aliás, para Paulo, conforme destacou no verso 8, um agir mental diferenciado é parte da própria obra redencional, para que possamos conhecer o mistério de Cristo como centro do universo.
O ponto nesta oração é que ele pede a Deus que os crentes desenvolvessem mais essas capacidades, uma vez, que, por causa da demonstração de fé que os crentes lhe davam através do seu comportamento, ele acreditava que já possuíam em semente aquele potencial.
Vs 18 e 19
Os crentes deveriam ter consciência da necessidade de desenvolver a capacidade de reestruturar o pensamento em torno de Deus, na pessoa de Cristo e o ponto central do agir era o coração, como sede de toda a vida humana. Seria a partir da mente humana que essa obra de crescimento iria começar.
Iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos e qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia do seu poder (Efésios 1.18 e 19).
Evidentemente, Paulo parte do principio de que, mesmo os crentes sendo escolhidos e escondidos em Cristo para uma nova vida, eles ainda sofrem os efeitos da natureza caída, por isso é que eles precisam ser iluminados, uma vez que ainda sofrem com influência das trevas, mesmo que não estejam sobre o seu domínio . Esta é a exortação que percorre a carta: que os crentes não se deixem enganar pelas trevas que os rodeiam e que sejam conscientes de que são filhos da luz:
Pois, outrora, éreis trevas, porém, agora, sois luz no Senhor; andai como filhos da luz (Efésios 5.8).
A reestruturação do pensamento deles passaria por alguns aspectos da realidade. No esquema abaixo apresentamos a estrutura dessa fraseologia da oração de Paulo.
A idéia geral desta fraseologia é que os crentes criem uma consciência sobre tudo o que está envolvido na obra de Deus de colocar Cristo no Centro de todas as coisas. Até aqui, ele aponta aos crentes que saibam (compreendam - eidenai - horáo), cujo termo vem da idéia de perceber com a mente, como “eureka”.


Vs 20 e 21
Neste ponto da oração, Paulo completa o seu pensamento dizendo que eles deveriam ter consciência mais esclarecida sobre quem é Cristo e o que ele faz hoje. Este ponto Paulo dará como uma sequencia da oração ao dizer que o grande e eficaz poder de Deus para tornar Cristo o Senhor do Universo, começou a ser operado no próprio Cristo, quando Deus o ressuscitou da morte:
O qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais (Efésios 1.20).
Neste ponto o apóstolo Paulo precisa fazer com que os crentes compreendam que não estão ligados apenas a mais um líder religioso ou a um profeta poderoso em palavras ou um curandeiro, milagreiro ou filósofo habilidoso. Eles deveriam compreender que o mistério que envolve a pessoa de Cristo, o qual está sendo revelado é que, pelo poder do Soberano Deus, Cristo foi coroado Senhor de Todas as Coisas, as quais ele próprio faz questão de elencar no verso 21:
Acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no vindouro (Efésios 1.21).
Neste ponto, portanto, Paulo deseja fazer com que os crentes considerem o que está envolvido no fato de que servem a Cristo, ou seja, que eles considerem que servem ao mais impressionante Senhor existente, que sobre ele e sua vontade não existem rivais, este é o grande mistério que está escondido e quem tem sido dado a conhecer na plenitude dos tempos, do qual ele Paulo era o pregador:
Pois, segundo uma revelação, me foi dado conhecer o mistério, conforme escrevi a pouco resumidamente; pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério de cristo, o qual, em outras gerações, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no Espírito, a saber, que os gentios são co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho (Efésios 3.3 a 6).
O Mistério de Cristo como Senhor de todas as coisas, o centro de tudo o que existe, foi revelado agora aos gentios, juntamente como fato de que os crentes efésios poderiam saber que, eles também, os que foram adotados na família de Deus, agora eram partícipes. Eles deveriam ter os seus corações iluminados para este conhecimento o que os levaria ao ponto que é enfatizado nos versos 22 e 23.
Vs 22 e 23
Nestes versos, o ponto culminante da oração de Paulo era que os crentes tivessem consciência do que é ser Igreja de Cristo. Este ponto é fundamental para a Igreja, pois, dependendo de como você compreende o que é Igreja isto determinará o modo como você age.
Seguindo novamente o argumento no seu início, veremos o seguinte: primeiro Paulo deseja que eles tenham consciência de Deus e do plano soberano que está se realizando a partir da vontade do Pai; em segundo lugar, eles precisam ter consciência de Cristo e do poder eficaz que o tornou o Centro de Todas as Coisas e de como, ele agora está exaltado acima de todos os poderes deste mundo e do vindouro; por fim, nestes versos 22 e 23, o olhar de Paulo se volta para a Igreja, que é o seu objetivo final.
O que Paulo intenta com toda essa construção é que os crentes de Éfeso saibam a importância que tem a Igreja dentro deste projeto cósmico de redenção universal. Cristo, como Senhor de todas as coisas, exerce poder neste mundo por meio de sua Igreja.
Ela é a matriz redencional, isto é, toda a redenção do Universo tem como ponto de partida o próprio Corpo de Cristo. Como você pode ver na fraseologia do verso 22, esta é uma ação soberana do Pai, que efetua o seu querer através de Cristo.
E pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à Igreja (Efésios 1.22).
Quero pensar este ponto a partir do próprio texto, que é de uma truncada tradução. “todas as coisas” é uma expressão repetida no texto, tudo gira em torno disto. Deus colocou todas as coisas debaixo dos pés de Cristo, e para que ele exerça esta autoridade sobre “todas as coisas” o deu à Igreja. Evidentemente, se seguirmos essa linha de interpretação, o verso 23 se torna completamente necessário sobre uma explicação do que vem a ser a Igreja e qual é o seu papel nisto tudo.
Ou seja, porque a Igreja era necessária para que ele exerça o seu poder sobre todas as coisas? Acredito piamente que esta etapa da Redenção, que estamos vivendo é uma etapa diretamente ligada à Igreja. É a etapa da completação do juízo e a Igreja como anunciadora do mistério está propondo duas coisas: que pessoas se rendam ao governo de Cristo ou que homens rejeitem o governo de Cristo.
Portanto, nesta etapa do senhorio de Cristo sobre o Universo, em particular a mente dos homens, a Igreja é governada e restaurada para que sirva como porta de salvação e juízo para a humanidade. Estas são as obras, que acredito estejam sendo referidas no capítulo 2, verso 10, e este é o ensino do capítulo 2, versos 1 a 7.
Pois somos feituras dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas (Efésios 2.10)
A nota explicativa do verso 23, corrobora, em meu entendimento essa interpretação. Ou seja, o fato de ele explicar quem é a Igreja e que ele é a plenitude de Cristo (outro verso bem difícil de se interpretar), aponta para o fato de que Ele se manifesta primordialmente na Igreja, ela é a plenitude dele, no sentido de que Ele pode ser conhecido nela, essa é a nossa grande responsabilidade como Igreja.
A qual é o seu corpo, a plenitude dquele que tudo enche em todas as coisas (Efésios 1.23).
“Cristo nos preenche e devemos mostrar isso ao mundo” é esse o pensamento que Paulo quer infundir na mente dos crentes efésios. Em outras palavras, eles deveriam confiar em Deus e em Cristo, para exercerem o seu papel de Igreja neste mundo em trevas. Este é o estímulo que Paulo tem dado a estes crentes para que vençam o grande problema do mundo em distorção. Um mundo que tem uma cabeça, a qual não quer seguir. Um mundo que está com a mente estruturada fora da realidade de Deus e de Cristo.
Paulo diz que este mistério o de Cristo ser o Senhor do Universo, por vontade de Deus, é algo que a Igreja detém como seu conhecimento e que deve ser divulgado a todos, contudo, devemos saber que essa é uma mensagem de juízo para a geração que não quer amar a Deus.

Conclusão
Particularmente, acredito que a proposta do Apóstolo Paulo é revolucionária em termos de visão de mundo (cosmovisão). Ele nos conclama a encarar a realidade de Cristo entronizado como o mecanismo central da Existência e propõe um modo de ser igreja que esteja diretamente ligada a este Cristo como o centro desta obra redencional de Cristo.
A proposta de Paulo não é que consideremos a Igreja assim, mas que sejamos despertos para esta realidade. Em outras palavras, ele não propõe uma maneira de concebermos a Igreja, mas que compreendamos o que a Igreja é!
A premissa fundamental de toda a existência é que Cristo é o Senhor do Universo e que todas as coisas estão ligadas a Ele. Que Ele, como Senhor de todas as coisas se mostrará ao mundo paulatinamente, manifestando aos homens este mistério através da Igreja, cujo papel é anunciar este Cristo, exortando aos homens que se curvem a Ele ou sejam julgados por não se curvarem a Ele.
Essa premissa fundamental leva Paulo a pedir a Deus que abra os olhos da sua Igreja e ilumine a sua mente para perceba essa realidade e por ela vida. Isso muda todas as coisas. A expectativa de Paulo é que redesenhemos nossa vida segundo esse novo paradigma e isso nos fortaleça como filhos de Deus.

Aplicação
A única aplicação prática que me ocorre neste ponto é a de exortar aos que compreenderam a profundidade da premissa fundamental da existência a que vivam e a compreendam em todas as suas nuances, permitindo-se viver segundo essa influência.
Precisamos nos libertar do egocentrismo que faz a nossa existência girar em torno de nós mesmos e de nossos interesses e nos colocar a serviço definitivo daquele que nos chamou para o seu Reino, como seus servos, filhos e irmãos.
Como Corpo de Cristo, o que precisamos não é apenas enxergar o mundo com os olhos dele, mas vivermos como servos dEle, mostrá-lo ao mundo, quer por meio da pregação que revela este mistério, quer pela vida santificada, por meio da nossa adesão à essa realidade supra-racional que nos tem sido revelada pelos profetas e apóstolos de Cristo.
Acredito que é um grande desafio a libertação do egocêntrico realismo material para viver pelo cristocêntrico realismo supra racional que a Bíblia propõe. Você é conclamado a ver cada aspecto da sua vida girando em torno de Cristo, como se cada uma das suas bênçãos fossem dadas nas regiões celestiais como instrumentos para que você viva a realidade supra-racional de Cristo como centro de tudo.

Oração
Senhor, ajuda-nos a crer nestas verdades! Permita-nos torná-las mais acessíveis a este jovens e faça-os mais comprometidos com seu Reino pela fé. Liberta-nos do egocentrismo realista e materialista que nos prende a uma realidade pequena do mundo apenas como nossos olhos podem ver, e nos faça conceber mais, conceber essa realidade que se nos mostra supra-racional e cristrocêntrica em tudo. Dá-nos essa luz á mente pequenina que temos!