quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Pensar Escatológico - Mente Vigilante


Mente Vigilante
“A Grande Tribulação”

Quando lemos sobre os eventos próximos do Eschaton, o final da presente era, devemos, como temos insistido, discernir que o objetivo da Escritura, ou seja, de Deus, não é aguçar a nossa curiosidade e muito menos causar qualquer terror em nossa alma. Entretanto, é muito comum ver essas duas reações distraindo a nossa mente quando o assunto é “Escatologia Futura”.
Não obstante este ser um assunto curioso e, ao mesmo tempo, um tanto quanto perturbador, o que Senhor espera que façamos é que o tomemos como um alerta para que desenvolvamos um pensar escatológico e, assim, vivamos com discernimento os dias de nossa era, mais particularmente os dias finais de nossa era. 
No ponto que abordaremos hoje, falaremos sobre a “Grande Tribulação” e procuraremos nas descrições bíblicas sobre este evento os elementos necessários para o desenvolvimento de um pensar escatológico sadio.

A Grande Tribulação Como Evento Escatológico
É comum a associação da “Grande Tribulação” com acidentes catastróficos. Esse erro acontece quando a leitura de alguns textos bíblicos referentes visa uma abordagem meramente “jornalística”. Em outras palavras, quando textos como Mateus 24. 5 a 14, são lidos apenas para coleta de informações sobre o tipo de eventos que terão lugar no período da “Grande Tribulação”.
E, certamente, ouvireis falar de guerras e rumores de guerras; vede, não vos assusteis, porque é necessário assim acontecer, mas ainda não é o fim. Porquanto se levantará nação contra nação, reino contra reino, e haverá fomes e terremotos em vários lugares; porém tudo isto é o princípio das dores (Mateus 24.6 a 8).
Reduzir o conceito de “Grande Tribulação” apenas ao aspecto catastrófico dos acontecimentos próximos do fim é um erro de leitura. Sim, alguns eventos catastróficos terão lugar neste período, mas não é somente isto que  definirá a natureza destes período. A “Grande Tribulação”, como evento escatológico, será muito mais marcada pelo recrudescimento da postura anti-cristã no mundo.
Então, sereis atribulados, e vos matarão. Sereis odiados de todas as nações, por causa do meu nome (Mateus 24.9).
Ninguém, de nenhum modo, vos engane, porque isto não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosso o próprio Deus (II Tessalonicenses 2.3 e 4).
A Grande Tribulação, portanto, não é apenas um evento de catástrofes que leve a população mundial a sofrer. Primordialmente, o alvo do Senhor Jesus é mostrar que, na “Grande Tribulação”, a Igreja sofre perseguições e a influência apóstata, na busca de fazer calar a voz do Reino de Cristo.
Levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos (Mateus 24.11 e 12).
O propósito central dos agentes tribulacionistas do mal é o de fazer calar a Igreja para que o Evangelho de Cristo, que anuncia a chegada do Reino não seja anunciado. Duas maneiras serão as mais empregadas estratégias: a morte dos cristãos e a semeadura do falso evangelho.
Orai para que a vossa fuga não se dê no inverno, nem no sábado; porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido, nem haverá jamais. Não tivessem aqueles dias sido abreviados, ninguém seria salvo; mas, por causa dos escolhidos, tais dias serão abreviados. Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! Ou: Ei-lo ali! Não acrediteis; porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos (Mateus 24.20 a 24).
Concluindo, é importante que se perceba que a “Grande Tribulação” é um evento escatológico que aponta para o aprofundamento da mentalidade de oposição a Cristo e sua Igreja. Neste período, principal arma dos inimigos da Cruz é o silenciamento da voz do Reino, a pregação do Evangelho.

A Grande Tribulação Como Evento de Forças Malignas Exacerbadas
A malignidade é própria da natureza humana caída. Em virtude da malignidade do coração do homem, também temos a rebeldia do ser humano caído no que tange a sua fuga constante na sua relação com Deus.
Por que se enfurecem os gentios e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam e os príncipes conspiram contra o Senhor e contra o seu Ungido, dizendo: rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas (Salmo 2. 1 a 3).
Talvez o episódio mais significativo sobre essa postura fugidia do ser humano em relação a Deus seja o que relata a queda do homem, quando o homem se escondeu do Senhor e tentou cobrir-se com folhas de figueira.
Entretanto, a malignidade presente nos dias da “Grande Tribulação” não é somente aquela própria da inclinação do coração humano. Antes ela é um produto da exacerbação do poder do Maligno.
A intensificação da animosidade entre as nações e o despontar de tantas guerras, a proliferação do fome, o crescimento da apostasia e da iniquidade são resultados dessa malignidade fortalecida pela presença do Maligno na terra.
Os textos bíblicos vinculam este período de aumento da malignidade humana com o surgimento do “Homem da Iniquidade”. Um agente maligno-tribulacionista e a sua ação é segundo a mesma intenção e poder de Satanás.
Ninguém, de nenhum modo, vos engane, porque isto não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição... Com efeito, o mistério da iniquidade já opera e aguarda somente que seja afastado aquele que agora o detém; então, será, de fato revelado o iníquo, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e o destruirá pela manifestação da sua vinda. Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais, e prodígios da mentira (1 Tessalonicenses 2.3; 7 a 9).
Em Apocalipse, podemos associar este período da “Grande Tribulação” com o surgimento das bestas do Mar e da Terra (capítulo 13). Também, com soltura de Satanás, preconizada no capítulo 20. Enfim, podemos falar de um período onde a malignidade presente é fortalecida pela ação capacitadora de Satanás e o surgimento de agentes diretamente relacionados ao príncipe das trevas, o homem vil (Daniel 11.20 e 36).


A Grande Tribulação e a Pregação Missionária do Evangelho a Todas as Nações
Quem tem acompanhado a leitura até este passo deve estar se perguntando se a Grande Tribulação será um período que reserva alguma notícia boa para os filhos do Reino. Evidentemente sim, e a mais excepcional de todas as notícias é tão paradoxal com este tempo que podemos dizer que chega a ser o resultado de uma grande intervenção de Deus no mundo. Trata-se da chegada do Evangelho a todas as nações.
E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então virá o fim. (Mateus 24.14).
Devemos nos deter por um instante para pensar em todas as circunstâncias malévolas que envolvem este período. O crescimento da maldade dos anticristãos e a sua violência contra a Igreja, quando tentarão silenciar a pregação do Evangelho; por outro lado, também o crescimento do “Falso Evangelho”, a grande apostasia que terá lugar naqueles tempos, com falsos mestres, pervertendo a mente dos ouvintes; também os grandes sinais do juízo de Deus, como os eventos catastróficos que farão sofrer a todos os homens; enfim, se considerarmos o desenvolvimento de todas estas condições adversas, seria mais natural que o Evangelho do Reino fosse eliminado, mas o impressionante é que mesmo nestas condições, o Evangelho vencerá.
O martírio da Igreja dos dias da Grande Tribulação servirá para o testemunho para todas as nações, até para aquelas que ainda não haviam sido alcançadas, naqueles dias. A própria palavra “testemunho” é em grego “marthyrion”. Enquanto os inimigos do Evangelho pensam estar impondo grande flagelo à Igreja, ela estará, finalmente, pronta para cumprir a sua tarefa da maneira mais gloriosa, como talvez, somente nos tempos da Igreja Primitiva foi possível ver.
A Igreja cumprirá a sua grande missão e tornará o efetivo o mandato do “Ide”. Assim, passamos a considerar o sinal da Presença de Jesus na Igreja.
A Grande Tribulação Será o Tempo do Ápice da Comunhão Temporal da Igreja Com Cristo Nesta Presente Existência
Como já disse anteriormente, o “Sinal da Pregação Missionária do Evangelho a Todas as Nações”, considerando toda a oposição que se fará à Igreja nos dias da Grande Tribulação, só poderá ser realizado mediante à uma ação sobrenatural.
Sim, volto a afirmar que a ação sobrenatural destes dias ocorrerá no coração dos crentes. Parábolas como a das dez virgens, dos talentos e a do servo bom e do mau (Mateus 24.45 a 25.30) estão emolduradas pelo Sermão Profético (início do capítulo 24) e o Grande Julgamento (Final do Capítulo 25). Tais parábolas ensinam algumas verdades importantes sobre os tempos finais. Elas ensinam que o Filho do Homem virá e que julgará a cada um; também nos ensinam que haverá separação entre os que se afastam dele e os que lhe são fiéis.
Seguindo essa linha de raciocínio, é possível inferir que no momento da volta do Senhor teremos homens apóstatas na sua relação com o Senhor e homens muito fiéis. A fidelidade será uma marca característica da igreja dos dias da Grande Tribulação.
Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei, entra no gozo do seu Senhor (Mateus 25.23).
Note ainda como esse contraste pode ser visto no texto em que retrata a maior parte dos homens nos dias da segunda vinda e o que Deus espera do seu povo santo.
E, por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos. Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo (Mateus 24.13).
Com certeza, a Igreja dos dias da Grande Tribulação será apegada ao Senhor e terá nEle toda a sua esperança. O seu coração não se apartará do Senhor nunca, pois nestes dias, os cristãos terão somente o seu Cristo. Eles saberão o sentido da promessa “Eis que estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mateus 28.20).
A ligação desta Igreja com Cristo será a mais intensa de que se tem notícia. Essa ligação dará a força vital para que a Igreja se mantenha fiel em meio às poderosas forças malignas que se levantarão contra ela. Será essa unidade e dependência de Cristo que a levará a pregar o Evangelho a todas as nações.
A Grande Tribulação Como Tempo de Conversão de Muitos Judeus
Este é um dos temas mais controversos relacionados ao período da Grande Tribulação. Confesso que é difícil assumir uma posição taxativa e talvez, seja melhor não fazê-lo aqui. Contudo, precisamos considerar o que nos ensina o apóstolo Paulo sobre a chegada da “Plenitude do Gentios” e a “Salvação de Todo o Israel”.
Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que não sejas presumidos em vós mesmos): que veio endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios. E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as impiedades. Esta é a minha aliança com eles, quando eu tirar os seus pecados (Romanos 11.25 a 27).
Prefiro falar em tese este ponto porque há bons teólogos que consideram que nos dias da Grande Tribulação grupos grandes de judeus se converterão ao Senhor Jesus e o receberão como o Messias Verdadeiro.
Quando o texto fala em “todo o Israel será salvo”, devemos compreender que esta fraseologia bíblica pode não significar “todo e qualquer judeu”, aliás, é muito comum na Bíblia usar esta fraseologia apenas como uma maneira de inferir “uma grande multidão” ou “um grande número” (veja por exemplo Mateus 4.24).
O próprio Paulo faz uma distinção importante no capítulo 9.6, onde ele pontua sobre o fato de que “Israel de Deus” não é sinônimo absoluto de “homens e mulheres nascidos da descendência judaica”. Então, partindo deste princípio já temos uma distinção, para voltar a pensar que uma forte conversão de judeus, mas não de todos, é bastante possível, como já aconteceu com muitos outros povos.
E, se o Evangelho do Reino receberá novo ímpeto da pregação fiel da Igreja sofredora dos dias da Grande Tribulação, não poderá esta força servir de testemunho também aos judeus?
Eles também, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; pois Deus é poderoso para os enxertar de novo (Romanos 11.23).
Com certeza este é um tópico que precisa de maior estudo da nossa parte. Mas, ficamos por aqui, oferecendo a “conversão de grande número de judeus” como um dos sinais positivos a serem testemunhados nos dias mais difíceis e prósperos do Evangelho do Reino.