terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Treinando a Mente - Meditação Textual-Bíblica


Evidentemente, estamos tratando de uma única tarefa, que é o ato de meditar na Lei de Deus. Essa tarefa poderá ser levada a efeito, tendo por instrumento a “Meditação Ilustrativa”, que consiste no uso dos elementos ao redor com a finalidade de que as realidades exteriores ilustrem as verdades eternas, conforme ensinadas nas Sagradas Escrituras. Outro instrumento que já tratamos é a “Meditação Dogmática”, que se trata da recuperação da verdades aprendidas sobre Deus, trazê-las ao pensamento consciente e nelas considerar, procurando implicações práticas na vida cotidiana.
Agora, entretanto, continuaremos a busca da “meditação na lei de Deus”, enfatizando o uso do texto bíblico. Na verdade, diferenciamos esse método da “meditação dogmática”, por que a sua temática é concentrar o ato de meditar no próprio texto em si e não apenas nas doutrinas bíblicas.
Esse método aproxima-se do que, em Teologia é conhecido como “Teologia Bíblica”. Esse método teológico estuda as verdades bíblicas através do processo revelacional, procurando um entendimento mais completo dos propósitos revelacionais da Escritura. Também forma uma consistente visão do todo bíblico.
Exemplos Escriturísticos de Meditação Textual Bíblica
Devemos esclarecer, que não era uma preocupação dos escritores bíblicos, nem de suas personagens, qualquer distinção sobre métodos teológicos. Na verdade, eles simplesmente registravam o texto, ou viviam suas histórias segundo o Espírito lhes dirigia, vivendo sua vida com Deus de forma simples e prática.
Entre os maiores mestres bíblicos dessa prática meditacional temos o próprio Senhor Jesus. Várias passagens do Novo Testamento, dão conta de que ele se valia das passagens do Velho Testamento para aplicar aos seus discípulos a verdade escriturística a seu respeito.
Em Lucas 24.26, Jesus procura meditar no texto bíblico para levar os dois viajantes do Caminho de Emaús a refletirem sobre o seu desânimo.
“E, começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as
Escrituras” (Lucas 24.26).
Como podemos notar, o texto bíblico é o instrumento de Jesus para a exposição da verdade. Isso está acontecendo enquanto caminham na direção de Emaús e isto está provocando uma reação em seu coração, muito parecida com aquela descrita no Salmo 39.3 e 4.
“Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras?” Lucas 24.32.
Como você pode observar, os elementos meditacionais estão bem presentes e eles partem do texto bíblico, no caso, de alguns textos nos Livros da Lei e nos Profetas (lembrando que os judeus consideram os livros históricos, também proféticos).
Em seguida, Jesus os deixa e o último elemento da meditação entra em ação, isto é, a “prática’. Os dois discípulos são restaurados no vigor da sua fé e partem na direção oposta, voltam para Jerusalém.
“E, na mesma hora, levantando-se voltaram para Jerusalém, onde acharam reunidos os onze e outros com eles” (Lucas 24.33).
Neste ponto, iremos utilizar menos exemplos e de forma mais sucinta, uma vez que tudo o que já foi dito em relação a alguns processos da meditação ilustrativa e dogmática, servirão para se aplicarem aqui, evitando, assim, a repetição.
Voltaremos nosso olhar para o livro de Atos, capítulo 8. Ali, vemos um homem lendo o texto bíblico, procurando meditar na mensagem de Isaías 53. Ele não entende e Filipe vem ao seu encontro e lhe ajuda no ato meditacional.
“Então, Filipe explicou; e, começando por esta passagem da Escritura, anuncio-lhe a Jesus” (Atos 8. 35).
Você pode notar que eles estavam andando na direção da terra do Eunuco, já na direção de Gaza, ao sul da palestina. Eles estão com o texto de Isaías e meditam nas implicações deste texto e, depois, lêem outros textos e meditando neles, chegam à Cristo Jesus e, certamente, o Eunuco é levado a pensar nas implicações práticas disto.
Em seguida, depois deste tempo juntos com o texto, eles chegam a um ponto em que o Eunuco deseja algo prático na sua vida, ele clama pelo batismo cristão. Então, Filipe o encaminha nesse compromisso de fé e depois o deixa.
“Seguindo eles caminho fora, chegando a certo lugar onde havia água, disse o eunuco: Eis aqui água; que impede que seja eu batizado? Filipe respondeu: É licito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus. Então, mandou parar o carro, ambos desceram à água, e Filipe batizou o eunuco” (Atos 8.36 a 38).
Esse método, em tese, deve nos levar ao mesmo lugar, ou seja, uma consideração necessária ao ensino da Lei de Deus e suas implicações práticas na nossa vida. O objetivo é sempre uma mudança de conduta, a partir de uma mudança na mente, pelo aprofundamento da Palavra em nós.
Em ambos exemplos, podemos perceber que uma interiorização do texto bíblico acabou ocorrendo, isto é, aqueles que meditaram foram não apenas esclarecidos, mas o texto transformou-lhes a vida.
Esse método se aproxima muitíssimo das próprias pregações que ouvimos, que nada mais são que meditações textuais bíblicas dos pregadores que se tornaram em sermões para toda a comunidade. Você pode considerar esse método como uma pregação para você mesmo, procurando extrair dos textos bíblicos ensinos que se apliquem diretamente à sua realidade pessoal.
Neste sentido, essa método meditacional pode oferecer ao crente uma aproximação com a Escritura, treinamento no conhecimento da Palavra, mas principalmente, conformação da sua vida ao que ele lê na Lei de Deus, com a vantagem sobre o sermão de que as aplicações do texto não são genéricas, mas diretas às necessidades sentidas.
Descobrindo o Foco da Mudança da Mente
Procure descobrir o Foco da Sua Condição Decaída ao qual o texto se aplica diretamente. Esse conceito (FCD) é ensinado pelo Professor Dr. Bryan Chapell, um expert em pregação. Ele parte do princípio de que todo o texto bíblico tem uma aplicação redencional, isto é, a Escritura é a voz de Deus alterando nossa vida, promovendo a Redenção em nós.
“Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Timóteo 3.16 e 17).
O FCD é aquela esfera particular do seu caráter, da sua prática de vida, suas circunstâncias etc, que são afetadas pela presença do pecado e que precisam ser alcançadas por uma mudança de mente, ou até mesmo o fortalecimento da sua mente, naquilo que ela já consegue pensar redencionalmente.
Evidentemente, esse passo pode ser dado em qualquer um dos outros métodos de meditação estudados até aqui, mas na “meditação textual bíblica” ele tem uma principal aplicação, pois o próprio Deus afirma que a sua Palavra promove mudança em nós.
“Guardo no coração a Tua Palavra para não pecar contra ti” (Salmo 119.11).
“Vós já estais limpos, pela Palavra que vos tenho falado” (João 15.3).
“Santifica-os na Verdade, a Tua Palavra é a Verdade” (João 17.17).
“E que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (2 Timóteo 3.15).
Faça Aplicações Práticas
Infelizmente, temos vivido um evangelho muito teórico. Enfatizamos tanto a necessidade de conhecer a verdade e não nos despertamos para o fato de que o verdadeiro conhecimento da verdade exige aplicação prática à vida.
Bryan Chapell, tem uma frase maravilhosa sobre a falta de aplicações práticas nos sermões: “Não somos simplesmente ministros da informação; somos ministros da transformação de Cristo” (Bryan Chapell - Pregação Cristocêntrica - Ed. Cultura Cristã).
Em se tratando da “Meditação na Palavra”, não podemos nos esquecer de que o objetivo dessa ação não é o de apenas dizer para Deus que estamos fazendo algo. Não é o preenchimento de uma praxe, ou uma exigência, o objetivo é a transformação da nossa mente. Não existe razão em uma meditação, cujo objetivo seja tão somente criar uma rotina para satisfazer nossa consciência religiosa.
Essa é a crítica que Tiago faz àquele que busca a Palavra sem uma ênfase na mudança prática da vida. E, lembrando bem, isso foi também o que o próprio Cristo afirmou em Mateus 7.24 a 27.
“Porque se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência. Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem aventurado no que realizar (Tiago 1.23 e 25).
Evidentemente, a aplicação prática é o que precisamos em nossas meditações, pois não meditamos por outro motivo senão para a transformação da nossa mente e com isso, uma prática de vida que mostre o nosso novo ser redimido.
Quando você descobre o FCD, o texto tem apresenta aquilo que precisa ser transformado em sua mentalidade cristã, disto decorre que suas ações seguintes deverão se conformar ao seu FCD. Então, a aplicação prática deve gerar decisões.
Tome Decisões Redencionais
“Decisões Redencionais” são as respostas práticas que damos ao nosso ato meditacional. Na verdade, “Decisões Redencionais” são aquelas respostas que damos a Deus, sempre que ouvimos a sua voz.
Crentes devem decidir o que irão fazer com aquilo que ouvem da parte de Deus. Eles não podem simplesmente ouvir o que Deus tem a dizer, como se o que o Pai Celeste fosse apenas uma conversa casual sobre amenidades.
Deus está disposto seriamente a transformar nosso caráter pela sua palavra e nós ralentamos em ouvir e nunca decidir nada sobre nós mesmos.
Tiago, ainda nos ajuda a pensar nisso com as seguintes palavras:
“Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã. A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo” (Tiago 1.26 e 27).
“Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade” (Tiago 2.12).
Por isso, não retarde suas decisões diante da voz de Deus. Em suas meditações procure os locais escuros do seu caráter e ilumine-os, ou ainda, procure fortalecer a luz que está em você, escolhendo práticas que te tornem mais eficiente redencionalmente, na obra de viver para Deus.
Muitos livros podem reformar seu caráter, mas somente a Bíblia pode efetivamente transformá-lo (Joel Beeke). A meditação na Lei de Deus é a busca dessa transformação de uma maneira mais profunda e efetiva.

Regra de Fé e Prática
Na doutrina reformada a Bíblia é chamada de Regra de Fé e Prática. Isto implica em sua importância sobre o conteúdo do que cremos e sobre aquilo que decidimos praticar.
Os puritanos ingleses escreveram livros e livros sobre a prática cristã e, para eles, era fundamental que toda a atividade dos cristãos fosse diretamente baseada na Palavra de Deus. Dessa forma, descobriram que o Livro de Deus era uma fonte de conhecimento para a vida prática. Esse é justamente o pensamento dos autores bíblicos, quando se reportam às próprias Escrituras e nelas meditavam.
“Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina. Quanto aos homens idosos, que sejam, temperantes, respeitáveis, sensatos, sadios na fé, no amor e na constância. Quanto à mulheres idosos, semelhantemente, que sejam sérias em seu proceder, não caluniadoras, não escravizadas a muito vinho; sejam mestras do bem, a fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus filhos, a serem sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que a palavra de Deus não seja difamada (...), a fim de ornarem, em todas as coisas, a doutrina de Deus, nosso Salvador” (Tito 2.1 a 10).
O SENHOR, ao revelar sua vontade aos homens de forma escrita, não objetivava uma mudança apenas no conteúdo mental dos homens, mas delineava com isso, seu intenso desejo de que o homem aprenda a viver para Ele.
A ação de inculcar à mente humana a sua Lei sempre foi uma proposital maneira do Ser Divino de conduzir o homem a um modelo vivencial que tivesse a Ele próprio como centro. Tal atitude não esconde um egocentrismo divino, mas uma das mais abrangentes demonstração de amor por parte do Glorioso Criador, pois Ele bem sabe que viver para ele e adorá-lo é o supremo bem para a vida humana.
“Eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus. Dar-lhes-ei um só coração e um só caminho, para que me temam todos os dias, para seu bem e de seus filhos. Farei com eles aliança eterna, segundo a qual não deixarei de lhes fazer o bem; e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim” (Jeremias 32.38 a 40).
Portanto, uma vida de prática da Lei de Deus é a mais completa e desejada bênção que podemos alcançar. Isso nos transforma pessoalmente e nos torna pessoas mais vivas para Deus, ao mesmo tempo que agrada ao Supremo Senhor.



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