quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Salmo 84

“Salmo 84”
Ao mestre de canto, segundo a melodia “os lagares”.
Salmo dos filhos de Coré



Introdução
O salmo 84, inserido no terceiro livro de Salmos, é um representante daqueles que a composição foram atribuídas aos filhos de Coré. Fora este salmo, outros três tem a mesma autoria: 85, 87 e 88, além do grupo 42-49 do segundo livro.
Trata-se de um salmo de exaltação do valor do templo do Senhor em Jerusalém. Este é um dos aspectos mais importantes deste salmo e um dos temas recorrentes em todo o saltério.
O templo, a Casa de Deus, o lugar da adoração era um dos aspectos centrais da relação de Deus com o seu povo. E, como já vimos, está diretamente ligada à ideia de adoração e a glória do Senhor (Halel) tão presente em toda a organização do saltério.
Neste estudo, vamos aproveitar e aprender uma nova maneira de encontrar e estruturar a mensagem de um salmo.

O autor e o título
Como sempre, as questões contextuais do autor são sempre muito importantes no estudo de um salmo. Às vezes, como no Salmo 54 que menciona um contexto histórico explícito, somos abastecidos de informações que levaram à composição do salmo e tais informações nos ajudam a entender melhor a sua mensagem.
No caso de hoje, não temos um contexto histórico específico, mas temos autores bem específicos. Os outros salmos que eles compuseram podem nos ajudar a identificar algum tema unificador, a sua função templária também pode nos oferecer ferramentas de entendimento e, assim, conhecer os filhos de Coré pode ser uma das ferramentas interessantes para o estudo deste salmo e seus equivalentes.
Os filhos de Coré
A família de Coré, o líder rebelde que teve sua tenda destruída pelo Senhor quando se revoltou contra a liderança de Moisés (ver Números 16. 20-32).
Coré era neto de Coate e, portanto, do grupo dos coatitas da tribo dos levitas. Além dos filhos de Arão, a tribo dos levitas fora dividida em outros três grupos: os gersonitas, os meraritas e os coatitas. O trabalho desses outros grupos não era ligado ao sacrifício em si, mas ao transporte dos utensílios do tabernáculo (ver Números 4.1-33).
Havendo, pois, Arão e seus filhos, ao partir do arraial, acabado de cobrir o santuário e todos os móveis dele, então, os filhos de Coate virão para levá-lo; mas, nas cousas santas, não tocarão, para que não morram; são estas as coisas da tenda da congregação que os filhos de Coate devem levar. (...) Arão e seus filhos entrarão e lhes designarão a cada um o seu serviço e a sua carga. Porém os coatitas não entrarão, nem por um instante, para ver as coisas santas, para que não morram (Números 4.15-20).
Passado o tempo, Coré, o neto de Coate, se insurgiu contra essa ordenação do tabernáculo e se aliou a outros membros de outras tribos (Datã e Abirão) para oferecer resistência à Moisés e seu irmão Arão. O resultado, como nós vimos no capítulo 16 de Números é que a terra se abriu e consumiu tudo o que tinham e depois o Senhor também eliminou os que pretendiam oferecer incenso com fogo estranho ao Senhor:
E aconteceu que, acabando ele de falar todas estas palavras, a terra debaixo deles se fendeu, abriu a sua boca e os tragou com as suas casas, como também todos os homens que pertenciam a Coré e todos os seus bens. Eles e todos os que lhes pertenciam desceram vivos ao abismo; a terra os cobriu e pereceram do meio da congregação (Números 16.31-33).
Procedente do Senhor saiu fogo e consumiu os duzentos e cinquenta homens que ofereciam incenso (Números 16.35).
Mais tarde, quando Moisés registra o censo dos israelitas, verificamos que nem todos da casa de Coré foram consumidos. O Senhor poupou os “filhos de Coré”, os quais continuaram a servir no seu labor do tabernáculo.
Os filhos de Eliabe: Nemuel, Datã e Abirão; estes, Datã e Abirão, são os que foram eleitos pela congregação, os qusi moveram a contenda contra Moisés e contra Arão, no grupo de Coré, quando moveram a contenda contra o Senhor; quando a terra abriu a boca e os tragou com Coré, morrendo aquele grupo; quando o fogo consumiu duzentos e cinquenta homens, e isso serviu de advertência. Mas, os filhos de Coré não morreram (Números 26.9-11).
Em serviço contínuo no tabernáculo nas saídas do povo de Israel, esses homens aprenderam o lugar da adoração na vida de sua comunidade e o seu lugar como instrumentos deste poderoso recurso dado por Deus ao povo. Eles também foram inseridos no trabalho do Tabernáculo, quando este deixou de ser andarilho, nos dias de Davi.
Os porteiros: Salum, Acube, Talmom e Aimã e os irmãos deles; Salum era o chefe. (...) Salum, filho de Coré, filho de Ebiasafe, filho de Corá, e seus irmãos da casa de seu pai, os coreítas, estavam encarregados da obra do ministério e eram guardas das portas do tabernáculo; e seus pais tinham sido encarregados do arraial do Senhor, e eram guardas da entrada (1 Crônicas 9.17-20).
E uma outra parte dessa família foi inserida entre os músicos do serviço do tabernáculo, no côro dirigido por Hemã, Jedutum (Etã) e Asafe.
São estes os que Davi constituiu para dirigir o canto na Casa do Senhor, depois que a arca teve repouso. Ministravam diante do tabernáculo da tenda da congregação com cânticos, até que Salomão edificou a Casa do Senhor em Jerusalém; e exercitavam o seu ministério segundo a ordem prescrita. São estes os que serviam com seus filhos. Dos filhos dos coatitas: Hemã, o cantor, filho de Joel, filho de Samuel (1 Crônicas 6.31-33).
Lá estavam os filhos de Coré, mesmo depois, no período de Salomão, entronizados na vida templária, servindo a Deus como porteiros e cantores do Senhor. Desse grupo é que surgiram os compositores dos 12 salmos coraítas do Saltério e dentro do seu contexto de lutas em prol da fé de Israel é que eles  foram chamados a compor canções que tinham como ênfase a vida com Deus e o louvor da sua glória.
Acredito que no Salmo 84, um versículo era muito significativo para esse grupo:
Pois um dia nos teus átrios vale mais que mil; prefiro estar à porta da casa do meu Deus, a permanecer nas tendas da perversidade (Salmo 84.10).
Ao Mestre de Canto - Segundo a Melodia “Os Lagares”
Não é fácil determinar o que essa melodia poderia significar. Via de regra, quando um salmo deveria ser cantado segundo uma melodia específica, os cantores e todos os adoradores entendiam a ênfase que era dada àquele momento litúrgico e o espírito de adoração era conduzido por isso.
O dirigente, possivelmente Hemã, o sábio, (1 Reis 4.31), o líder do Côro, conhecido como “Os Filhos de Coré”, que eram reputados por serem homens a quem o Senhor conservara com misericórdia e providência. Ele deveria conduzir o povo nesse salmo, levando à experiência intelectual de discernir o valor da Casa de Deus, segundo a melodia “Os Lagares”.
Essa melodia não tem um significado explicado, mas a palavra hebraica que a define pode nos ajudar. Ela é usada em outros dois salmos: Salmo 8, Salmo 81. Em ambos, a exaltação de Deus parece ser um tema central e, aqui no 84, a glória da Casa de Deus, baseada na glória do Deus com quem os homens se encontram.
A palavra “Gitite”, ou “Gate” em outros lugares, indicava o lugar onde eram recolhidas as uvas, depois da colheita. Ela se reportava à ideia de ir ao lugar onde o fruto do trabalho é depositado e transformado em algo superior, onde a uva era transformada em vinho. Foi na casa de um gitita ou geteu que a Arca da Aliança ficou hospedada até que fosse levada a Jerusalém (2 Samuel 6.11)
Possivelmente, essa melodia indicava a preciosidade do Senhor e a necessidade do homem de viver para a sua glória. O Salmo 84, enfatiza o lugar onde isso ocorreria de forma mais preponderante: o templo, o lugar da adoração.

Estruturando o Salmo 84
Nosso exercício não tem como finalidade oferecer uma interpretação do Salmo, mas oferecer recursos para que o mesmo seja interpretado e sirva como exemplo para o mesmo exercício em outros salmos.
Temos procurado enfatizar que identificar as estrofes é uma forma de estruturar um salmo muito útil. Mas, essa não é a única maneira de se estruturar um salmo.
Temos exercitado encontrar os sinais gráficos, que foram preservados pelas publicadores que colocam em letras maiúsculas o início de estrofes, ou ao menos os sinais gráficos que assim dão a entender haver uma mudança de ritmo no salmo.
Veremos que estes sinais são apresentados nos versos 1, 4 e 12. Mas, neste salmo, em particular, embora esses sinais nos ajudem, vamos procurar um outro elemento estruturante.

Encontrando um tema ou uma frase que se repete
Uma outra forma de estruturar um salmo é identificar nele, se um tema ou uma frase se repete ao longo da poesia. Possivelmente, as repetições, quando consideradas percentualmente em um salmo, podem indicar com certa segurança a intenção primordial do autor.
No caso do Salmo 84, encontramos um tema recorrente: “Bem aventurados - feliz”. Esse tema é, além de uma repetição da poesia, bastante importante para o contexto de todo o saltério, pois, como vimos no estudo do Salmo 1, ele é a porta de entrada do “telos” (ideia central) de todo o saltério. Não somente o saltério, mas um dos textos mais importantes da Bíblia carrega essa noção de “bem-aventurança”, que é justamente o início do Sermão da Montanha (Mateus 5, 6 e 7).

Estrutura em torno da “Bem-aventurança”
A primeira vez que essa expressão aparece é no verso 4:
Bem-aventurados os que habitam em tua casa; louvam-te perpetuamente.
Aparece novamente imediatamente no verso 5:
Bem-aventurado o homem cuja força está em ti
Finalmente, aparece terceira e última vez no verso 12, ao final.
Ó Senhor dos Exércitos, feliz o homem que em ti confia.

Essa estrutura não tem um formato simétrico de versos. Evidentemente, ela deve ser tratada com outro conceito. Nesse salmo, em particular, a estrutura baseada nas estrofes das pausas ou sinais músicais preservados pelas maiúsculas também não tem formato simétrico e isso nos ajuda a não ter grande dúvida sobre qual estrutura usar. Afinal, já que ambas estão sem simetria, escolher a estrutura temática pode ser um caminho melhor.

Verso 1-4 - A primeira bem-aventurança - a exaltação da Casa de Deus
Esses versos iniciais foram compostos tendo como foco primordial a exaltação da Casa de Deus e o prazer que o salmista tem de estar nela. Ele mostra que os tabernáculos são amáveis e altamente desejáveis, como lugar de acolhimento para uma experiência com a presença do seu Deus.
Ele encerra essa sessão com uma declaração formal de bem-aventurança daqueles que habitam na Casa de Deus.

Versos 5-11 - A segunda bem-aventurança - o caminho da experiência de quem busca a Casa de Deus
Essa segunda parte do tema do Salmo é a mais longa. Ela é também a mais prática e direta sobre as experiência que os homens viviam para chegar à Casa de Deus.
O salmista enfatiza como o caminho que leva o homem à presença de Deus é trilhado. Primeiro, ele aponta para o coração que não vê as montanhas da estrada, sente no seu coração, uma estrada sem dificuldades, eles não criam empecilhos e não se deixam desanimar.
A proteção do Senhor em resposta às orações daqueles que buscam ir à Casa de Deus parece despontar como o fator de tanta tranquilidade e paz interior. Deus é o seu refúgio no caminho do deserto e seus olhos estão postos sobre aqueles que o buscam.
Ao final dessa porção, vemos as razões que levam o adorador a enfrentar a jornada: a alegria de estar na Casa de Deus e o fato de que eles desfrutam do benefício de viver com Deus.

Versos 12 - A terceira bem-aventurança - Deus é o centro da experiência templária
Um dos pontos que esse salmo ressalta ao seu final, como também ao longo é que O Senhor dos Exércitos é o centro de toda a experiência vivida na Casa de Deus.
Um dos aspectos mais complexos da relação de Deus com os seus filhos no Velho Testamento é que muitas vezes, eles amaram mais o Templo que o Senhor do Templo. Nesse salmo, a ênfase está no verdadeiro lagar, onde toda a nossa vida tem sentido: Deus, ou o Senhor dos Exércitos.
Podemos notar que esse é um dos temas repetidos nesse Salmo: verso 1, 3, 8, 12. Desta forma, podemos dizer que era intenção do salmista unir esses dois temas: a bem-aventurança de viver em comunhão com o Senhor dos Exércitos. Por isso, o lugar da adoração se fazia importante, pois era o ponto de encontro entre ambos.

Conclusão
De forma muito particular, para os filhos de Coré a experiência com o Templo ou o Tabernáculo era especial. Buscar viver para Deus não implicava escolher o que fazer, mas ser escolhido por Deus para uma obra específica. Volto a dizer que o verso 10 pode claramente apontar para isso.
Quando nos voltamos para os nossos dias, o lugar da adoração se tornou em uma espécie de lugar onde buscamos alimentar a nossa vontade e anseio humanos. Precisamos recuperar a alegria de buscar a Deus e a sua glória. Nisso é que encontraremos a verdadeira alegria e sentido da vida.
Aplicação
Você deve encontrar outros salmos que possam ser trabalhados por meio de sua estrutura temática e começar um treinamento de estudos segundo esse modelo. Procure, primeiramente salmos mais curtos, pois podem ser mais fáceis.




quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Salmo 37

“Salmo 37”



Introdução
O objetivo dos nossos estudos não é o de trazer as respostas prontas sobre o ensino de cada um destes salmos, mas o de oferecer recursos para que os estudantes da Escritura possam, por si mesmos, encontrar o significado dessa passagem. Portanto, tomaremos o Salmo 37, como um modelo de estudos que poderá ser aplicado para outros salmos do saltério.
Lembramos que é importante perceber que o primeiro livro dos Salmos (1-41) oferece uma ênfase comparativa entre o “justo” e o “ímpio”, tendo como prefácio o Salmo 1, que justamente apresenta essas duas personagens e a relação que têm com Deus.
O Salmo 37 também trabalha com essa mesma ênfase e abre um pouco mais essa discussão, apresentando o sentimento de injustiça que ataca o coração do justo, quanto percebe que o ímpio parece ter força para explorar e dificultar a sua vida.

Estrutura do Salmo e principais destaques
O salmo 37 tem uma estrutura bastante simples. Ele trabalha com a comparação entre o justo e o ímpio e as suas divisões estão sempre à procura de oferecer argumentos para que o justo permaneça como está, já que os ímpios serão consumidos e destruídos pelo Senhor.

Versos 1-2
Apresentação do problema e resumo da solução - O justo não deve invejar o ímpio, mesmo quando este parece mais forte do que ele, porque o Senhor os destruirá em breve.

Versos 3-6/7-11
Duas estrofes para dizer ao justo o que ele deve fazer e a justificativa para tanto.
Confia no Senhor
Descansa no Senhor
Não se irritar por causa do ímpio
Deixar a ira

Porque os malfeitores serão exterminados, mas o mansos herdarão a terra.

Versos 12-15.
O que faz o ímpio e a consequência do seu ato - O ímpio intenta contra o justo, mas será atingido pelo seu próprio mal.

Versos 16-20/21-26
Duas estrofes sobre a relação dos ímpios e dos justos com a providência de Deus - O ponto trabalho é que o valor é o que menos importa, o pouco do justo é mais valioso que o muito do ímpio. Porque o ímpio não conhece o que é a providência e o justo nela espera.
A integridade para com a conquista de bens materiais é um fundamento do justo e isso preservará a sua alma da aniquilação destinada aos ímpios. O tema da “Bênção e da Maldição” é retomado na relação com os bens materais (Deut. 28) e aplicada ao justo e ao ímpio.

Versos 27-31/32-34
Duas estrofes que exortam o justo a viver justamente e justifica o por quê. Deus ama a justiça, então o justo deve viver justamente e o Senhor pune a injustiça.

Versos 35-36/37-39
Observar o ímpio e o justo. O ímpio desaparece e o justo é salvo por Deus.
Verso 40
Conclusão - O Senhor ajuda o justo e o salva do ímpio, porque busca refúgio em Deus.

Definindo o Tema do Salmo
O refúgio em Deus é seguro
O Salmo trata da ajuda e do livramento que o Senhor oferece ao justo na sua relação de inquietação com o ímpio.

Resumo do Ensino
O justo não deve invejar, temer ou se indignar com o fato de que o ímpio pareça ter melhor sorte que ele, ou o estar explorando, porque Deus estará cuidando sempre do justo e livrando-o do mal.

Detalhes que ajudarão a formar o contexto
Sabemos que se trata de um Salmo de Davi. O verso 25 diz que Davi escreveu esse salmo na sua velhice e se trata de um salmo proveniente de suas experiências de perseguição e como o Senhor o livrou de tudo.

Estruturando uma mensagem no Salmo 37
O tema geral dessa mensagem deve ser o tema do Salmo, a questão de se sentir seguro em Deus. Ele pode ser abordado de muitas maneiras, mas o salmo enfatiza a comparação entre o tratamento que Deus dá aos justos e aos ímpios.
Para pregar estruturar uma mensagem no Salmo 37, você pode tomar algumas das divisões estruturais do Salmo e liga-las ao tema geral ou pregar no Salmo todo.
A dificuldade para estruturar uma mensagem no Salmo todo é que você deverá fazê-lo tematicamente justificando seus temas, a partir de versos do Salmo. Mas, caso escolha um trecho e relacioná-lo ao tema, então poderá fazer uma mensagem mais expositiva.

Exemplo de uma mensagem no Salmo todo.

Tema: O que preciso para sentir-me seguro em Deus?

Para sentir-me seguro em Deus - preciso reconhecer que Deus é justo
(versos 1-2; 9-10; 13 - como exemplo de sua justiça contra os homens ímpios)
(versos 6; 17; 23 - como exemplo de sua justiça para com os justos)
Para sentir-me seguro em Deus - preciso confiar em Deus
(versos 5, 7, 27-28, 29 - mostre como Deus declara sua benevolência e a importância de confiar nisso)
(verso 25 - O testemunho de vida de Davi que já era velho e experimentou, tanto quanto testemunhou essa importante verdade).

Para sentir-me seguro em Deus - preciso obedecer a Deus em todas as circunstâncias
(versos 16, 22, 37- explore o ensino sobre obediência - bênção e desobediência - maldição)
(verso 38 - explore também que os transgressores serão exterminados e que isso tem a ver com a falta de obediência dos homens).