quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Treinando a Mente - Meditação Ilustrativa

Iniciaremos outro aspecto das nossas considerações sobre treinamento da mente através da meditação, pontuando sobre um tipo de meditação que foi praticada e incentivada nas Escrituras, a qual é, ao mesmo tempo, precisa ser criteriosamente aplicada para que não seja corrompida e se torne em meditação mística. Trata-se da “meditação ilustrativa”
A “meditação ilustrativa” é o nome que eu aplico para aquele tipo de meditação bíblica que parte da observação da existência, funcionamento, propósito e dinâmicas de coisas naturais, fazendo uma clara aplicação ao conhecimento das coisas espirituais de forma bíblica.
Há alguns exemplos de como isso foi proposto na Escritura. Entre os mais famosos temos aquela parte do Sermão da Montanha, em que Jesus pede aos seus discípulos que “olhem as aves dos céus” e “olhem os lírios do campo”. Ele considera sua existência e sobrevivência e faz uma reflexão sobre o cuidado de Deus para com os discípulos.
Ele diz que Deus cuida destes seres tão frágeis e, de certa forma, tão menores que os homens, pedindo a eles que meditem sobre os aspectos fundamentais do cuidado de Deus para com os seus discípulos.
Observai as aves dos céus: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves” (Mateus 6.26)?
Outra ilustração natural que serviu como elemento para a meditação nas coisas de Deus foi aquela registrada no livro de Jeremias, capítulo 18. 1 a 6.
“Dispõe-te e desce à casa do oleiro, e lá ouvirás as minhas palavras. Desci à casa do oleiro, e eis que ele estava entregue à sua obra sobre as rodas. Como o vaso que o oleiro fazia de barro se estragou na mão, tornou a fazer dele outro vaso, segundo bem lhe pareceu” Jeremias 18.2 a 4.
Como você deve saber o final da história, o oleiro, o vaso, o barro e tudo naquela cena natural foi utilizada por Deus para propor a Jeremias que meditasse nas coisas que Ele, Deus, haveria de fazer em relação ao seu povo.
Os salmistas utilizaram muito destas ilustrações para meditar nas coisas de Deus, na sua majestade, no seu amor, no dever dos homens para com Ele etc. São vívidas as passagens que falam do pastor de ovelhas, das corsas que buscam pelas águas, das chuvas, dos pássaros que buscam abrigo etc.
Esse tipo de meditação é extremamente proveitoso para o treinamento da nossa mente, pois cenas naturais que podem ser utilizadas para considerações espirituais acontecem constantemente em nossa vida. Todos os dias e, com certeza em grande quantidade, podem ser detectadas por todos nós.
Além de muito freqüentes elas também são poderosas no treinamento de nossas mentes pois tornam o conhecimento de Deus muitíssimo prático para todos nós. Pois estabelecem uma sinapse direta entre o conteúdo, o significado e a prática.
O uso deste recurso treina a nossa mente a pensar em Deus mais constantemente, pois, sendo tão ricas e contínuas a ocorrências de situações ilustrativas, mais agilmente somos tomados pelos insights de meditação em Deus. Ao mesmo tempo, ela torna a nossa evangelização mais ilustrativa sobre Deus, pois nos permite, como Jesus fez em relação às parábolas, apresentar a mensagem do Evangelho de uma maneira mais ilustrativamente clara para os descrentes.
Mas, apesar de tantos benefícios, devemos permanecer alertas pois, este tipo de meditação pode carregar um perigo enorme e devemos tomar muito cuidado. O perigo gritante desse método é de fazer falsas referências espirituais de coisas naturais.
Falsos mestres aproveitaram a prática escriturística da meditação ilustrativa e fizeram analogias espirituais inapropriadas,  criando assim doutrinas falsas, segundo os seus próprios interesses. Um bom exemplo desse tipo de abuso são as ilustrações utilizadas pelos proponentes da Teologia da Prosperidade. Exemplo: um leão corre atrás de uma presa e a toma sem dó. Bem isso, poderia significar você orando, isto é, você vai diante de Deus como fome do que quer e toma da mão de Deus sem dó (é simplista o exemplo, mas não se assuste se alguém o utilizar por aí!).
Para se defender desse erro você deve lembrar a regra básica da meditação bíblica: meditação bíblica é sempre baseada e derivada do conteúdo bíblico.
Certamente, nenhuma ilustração sem apoio das Escrituras terá lugar na vida de aproximação com Deus. Você só conseguirá meditar ilustrativamente de forma bíblica se o conteúdo bíblico conduzir o modo e o resultado da sua prática meditativa.
Portanto o que produzirá conteúdo à sua meditação é seu conhecimento das Escrituras. Na verdade, você está apenas sendo tomado pela cenografia que ilustra o ensino bíblico que você carrega em seu coração. O papel da ilustração é dar cara viva ao conteúdo bíblico, muitas vezes superficial, que você já possui, fixando-o e tornando-o arraigado ou mais arraigado em sua mente.
Um exemplo que posso dar a todos aconteceu-me outro dia: sou o responsável por colocar comida para a cachorrinha que temos. Um certo dia, cheguei muito tarde e cansado em casa. Apenas tomei um banho e fui dormir. Naquele dia, por vinte e quatro horas, a cachorrinha ficou sem comer. No outro dia, eu lembrei do meu erro e fui correndo colocar comida para ela. Cheguei na parte do quintal que lhe é separado com um pode de ração, sabendo que ela devia estar com muita fome. A minha surpresa foi que ela, pelo que mostrou depois, estava com muita fome, no entanto, no momento em que me aproximei, ela estava mais interessada em curtir a minha presença amiga de dono, pegou bolinha para eu jogar, abanou o rabo, pulou etc.
Refletindo sobre isso, posteriormente pensei sobre o modo como nós, filhos de Deus, amigos de Cristo, somos mesquinhos e, nos deixamos fixar muito mais nas coisas que Ele nos dá, que naquilo que Ele é para nós. Fiquei muito envergonhado e orei pedindo a Deus que me perdoasse por todas as vezes em que não fiz como a minha cadelinha fez comigo.
Creio que todos vocês compreenderam o perigo e o mecanismo para fugir deste erro grosseiro. Espero, sinceramente, que ninguém jogue fora a possibilidade dessa meditação ilustrativa e seus benefícios por um excesso de escrúpulos, produzido pelo perigo que foi aqui mencionado.
Um outro aspecto interessante sobre “meditação ilustrativa” é que o ideal não é que ela venha de forma forçada, mas seja produzida como que pelo próprio Espírito Santo em nossa mente.
Trabalho com muito cuidado com isso e sei que o próprio linguajar, às vezes, tem algumas imprecisões. O que tento fazê-los entender é que, muitos, conhecendo essa possibilidade, começam a olhar para tudo ao seu redor e parar e tentar promover uma meditação ilustrativa. Esse tipo de atitude esvazia as possibilidades de resultado agregador da meditação, pois a banaliza e escraviza.
Os salmista dizia que ele meditava nas horas da noite, Jesus tomava exemplos fortuitos, de repente. Na verdade, a melhor maneira disso acontecer é pela espontaneidade do Espírito, ou seja, de repente, somos tomados pelo ímpeto de meditar em algo que acontece. Sem um planejamento, mas como uma comoção da alma que um desígnio da mente.
Estou dizendo que assim ela é mais proveitosa, não que não o possa ser, quando deliberadamente me devoto a fazê-lo. A questão é que a espontaneidade reforça a pureza do ato.
Em suma, o que é importante é que ela não seja dissociada da Palavra de Deus e seu ensino perfeito.

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