"Antes o seu prazer está na Lei do SENHOR e na sua Lei, medita de dia e de noite"
Introdução
A mais comum imagem do cristão é daquele homem ou mulher que vai à igreja. Esse é um quadro completamente distorcido e impreciso do que realmente vem a ser um servo a quem o Senhor está redimindo.
Certamente, o homem ou a mulher que vai à igreja está em um caminho muito melhor que aquelas pessoas que não se importam com o que Deus requer delas. Mas, o “ir à igreja” não é um sinal de que a redenção está se operando eficazmente em sua vida.
Não obstante, ajude bastante para que você cresça na direção de um aperfeiçoamento redencional, o “ir à igreja” não é um termômetro confiável de que a obra da Redenção está se expandindo em seu coração.
Temos enfatizado que a mudança da mente é o ponto central de início e expansão dessa obra redencional em nós. Entretanto, quando a mente verdadeiramente é alcançada redencionalmente, ela logo nos levará a um modelo de vida que nos impele a um tipo de cristianismo contínuo e mais aprofundado. Enquanto isso não acontece, mantemo-nos como o próprio Paulo descreveu: crianças espirituais.
A mente precisa ser treinada. Uma das características que se requer para esse treinamento é a disciplina, da qual tratamos no momento em que abordamos as decisões de Jonathan Edwards.
A decisão de disciplinar-se mentalmente para uma busca redencional, logo produzirá efeitos e o principal deles é o desejo de crescer na graça e viver mais intensamente o contato com Deus. Esse desejo se transformará em crescimento à medida que começarmos a pensar nas coisas lá do alto e nos libertarmos conscientemente da vida intra-mundanizada.
Para essa mudança na maneira de pensar temos como recursos maravilhosos os meios de graça, quais sejam, oração e palavra, como metodologia primordial para enriquecimento e treinamento da mente.
Iremos abordar, em primeiro plano, a Palavra. Nela, inicialmente, faremos uma consideração sobre o que diz o Salmo primeiro: “...antes o seu prazer está na Lei do Senhor e nela medita de dia e de noite”.
MEDITAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE APROFUNDAMENTO DA FÉ NO SENHOR
Obviamente, quando falamos em meditação, muitas pessoas tendem a ter um certo receio, pois logo fazem a associação com as práticas ocultistas e místicas das religiões orientais ou da nova-era. Certamente, não é deste tipo de meditação que estamos falando, por isso, mais à frente pretendemos oferecer uma pequena definição do que é meditar na Lei do Senhor.
Antes, entretanto, iremos abordar o fato bíblico da meditação. Pois a escritura não trata a meditação apenas como uma opção para o crescimento espiritual, ao contrário, ela a promove como instrumento fundamental para a vida de comunhão com Deus e frutificação.
No salmo primeiro, emblematicamente, o Salmista segue a proposta geral de diferenciação entre a semente de Deus (o homem justo) e a semente do Diabo (o homem ímpio) e destaca que o que o justo faz para não andar no caminho do ímpio é ter prazer na lei do Senhor, meditando nela dia e noite.
“Antes o seu prazer está na Lei do Senhor, e na sua Lei medita de dia e noite” - Salmo 1.2.
O salmista identifica o meditar na Lei de Deus como a arma poderosa para impedir que o homem de Deus ante no caminho do ímpio, como faz referência no verso 1. Ele anota que esse meditar nasce de uma visão positiva da Lei do Senhor, pois o prazer deste justo repousa sobre ela, o que possivelmente, gera uma experiência também positiva, pois o início do verso 1, diz que o resultado dessa postura é a bem-aventurança.
Um texto que parece ecoar neste salmo é Josué 1.7 e 8. Ali, Jehovah encoraja o general hebreu a ser corajoso para fazer o que tem de fazer e criterioso para fazê-lo segundo os preceitos de Deus. Para tanto, o Senhor diz a Josué que deveria priorizar o conhecimento e auto-preenchimento com a Lei do Senhor.
“Tão somente sê forte e mui corajoso para teres o cuidado de fazer segundo toda a Lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não se desvie, nem para a direita nem para a esquerda, para que sejas bem-sucedido por onde quer que andares. Não cesses de falar deste livro da Lei, antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito, então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido” (Josué 1.7 e 8).
Seguindo esse mesmo caminho, podemos observar no Salmo 119, conhecido como “Salmo da Palavra”, recomenda a meditação como uma maneira de fazer aprofundar os efeitos da Palavra no Coração.
“Guardo no coração a tua palavra, para não pecar contra ti” (Salmo 119.11).
“Meditarei nos teus preceitos e às tuas veredas terei respeito, terei prazer nos teus decretos; não me esquecerei da tua palavra” (Salmo 119.15 e 16).
Em todo o livro dos Salmos, que é, como expressou Calvino, “a anatomia de todas as partes da alma” teremos um grande número de afirmações diretas e indiretas sobre o valor da meditação na Palavra e em Deus como uma arma para o aprofundamento da fé e do apego a Deus e ao seu caminho.
A meditação na Palavra e em Deus (o que para mim, são a mesma coisa, pois meditar na Palavra é também meditar em Deus) produzem o efeito de tornar o conhecimento superficial que polui a mente humana em um crescimento arraigado nela.
Exemplifico isso de uma maneira negativa, mas que ilustra o que quero dizer: imagine que uma certa quantidade de poeira caiu sobre um lençol branco em sua cama. Imediatamente, você corre e aspira ou bate aquela poeira e ela não deixa vestígios. Esse é o conhecimento superficial de Deus que apenas polui a mente humana.
Mas imagine que você permita que aquela poeira permaneça sobre aquele lençol por alguns dias sem tocá-la. Depois de algumas semanas você resolve aspirar ou bater aquela poeira para fora, mas ela formou uma mancha. Esse mancha é o conhecimento arraigado de Deus.
A meditação produz isso, um arraigar do ensino bíblico sobre Deus, sua vontade, seus planos, considerações e desejos sobre nossa vida. Ela faz apegar ao nosso coração (mente) a Palavra que molda o que somos e nos transforma.
A DIFERENÇA ENTRE MEDITAÇÃO BÍBLICA E OUTRAS TIPOS DE MEDITAÇÕES.
Como já dissemos anteriormente, não devemos confundir a meditação bíblica com as práticas ocultistas das religiões místicas, quer orientais ou ocidentais, ligadas ao movimento da Nova Era.
A diferença primordial é que o conteúdo da meditação bíblica é o que a própria Bíblia diz, além de ser a meditação exclusiva em Deus.
“Antes o seu prazer está na Lei do Senhor, e na sua Lei medita de dia e noite” - Salmo 1.2.
O texto não deixa dúvidas de que a Lei de Deus é o objeto da meditação. A Lei de Deus, por sua vez, a voz do próprio Deus, o que, por simples consideração lógica significa que é meditar no que Deus diz.
Não descarto a eficácia de outras espécies de meditação como instrumentos de saúde física e mental. O próprio controle da respiração, sem nenhum conteúdo místico em si, já produz efeitos benéficos. Entretanto, elas não produzem o efeito que a meditação bíblica tem de transformar a mente do homem e fazê-la canalizar os intentos do coração na obra redencional de Deus.
As meditações do mundo oriental, em sua maioria quase absoluta, trabalham com esvaziar-se da mente para que o homem, sem as rotinas mentais costumeiras, alcance um determinado estado mental de ruptura para que se una, conforme apregoam, ao “cosmos” e às energias emanadas dele.
Na meditação bíblica o homem não esvazia a sua mente, ele a preenche com o conteúdo revelado sobre Deus. Ele não busca primordialmente, auto-conhecimento, mas o conhecimento de Deus, e aquele que o Divino tem sobre o homem. Assim ele não conhece a si mesmo, mas aprende o que Deus conhece dele. Desta forma, conhece a si mesmo, sob o prisma de Deus, o que de fato é mais realista e proveitoso.
Veja no Salmo 39, como o salmista compreendia que a meditação o levaria a conhecer a si mesmo:
Esbraseou-se-me no peito o coração; enquanto eu meditava, ateou-se o fogo; então, disse eu com a minha própria língua: dá-me a conhecer, Senhor, o meu fim, e qual a soma dos meus dias, para que reconheça a minha fragilidade” (Salmo 39.3 e 4).
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