Isaías 9.1-7
Introdução
O propósito destes estudos é avaliar o processo revelacional da redenção e a expectativa gerada por Deus na mente do seu povo amado. Em outras palavras, a reação de fé às promessas de Jehovah estava no centro de toda a perspectiva do envio dos profetas.
Um dos temas particularmente importante para o despertamento desta mentalidade redencional era a promessa do agente messiânico. O messianismo dos profetas não era baseado em um otimismo nacionalista, mas fundamentava-se no processo revelacional da obra de Redenção.
O texto que separamos para esta investigação inicial é Isaías 9.1-7. Este texto, propõe uma visão messiânica de transformação redencional do caos para o governo justo. Sua ênfase principal é no poder e autoridade do Messias para governar seu povo.
Estrutura do Texto
Um primeiro aspecto a ser notado na estrutura deste texto é o contraste entre "caos" e "governo".
Os versos iniciais (1 e 2) apresentam o caos dos governos injustos. O povo em tela são os mais pobres moradores da terra, da distante região de Zebulon e Naftali, eles são tomados como representantes do povo da Galiléia.
O resultado da falta de um governo justo, havia produzido um povo "aflito", "desprezível", vivendo em "obscuridade".
Mas, para a terra que estava aflita não continuará a obscuridade. Deus, nos primeiros tempos, tornou desprezível a terra de Zebulom e a terra de Naftali; mas, nos últimos, tornará glorioso o caminho do mar, além do Jordão, Galiléia dos gentios. O povo que andava em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz (Isaías 9.1-2).
O contraste já está implicito nestes versos, mas ficará ainda mais claro nos versos finais, em particular, o verso 7. Ali, o resultado do governo do Messias é a "paz sem fim" e a instauração de um ambiente de "justiça". Esse contraste, deve funcionar como paradigma a ser mentalizado e desejado pelo povo da Aliança, a fim não somente de esperar e desejar o Messias, mas também de fazê-lo perceber e trabalhar pela chegada deste reino.
Para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo do Senhor dos Exércitos fará isto (Isaías 9.7).
Os versos intermediários servem como explicação de como o Senhor fará chegar esse tempo de governo e redenção. Primeiramente, ele inicia dizendo que Deus, por meio do seu agente messiânico, venceria os inimigos do seu povo e, na parte final deste processo de contrução, aponta para o seu agente e o qualifica, designando-lhe nomes que descrevem o seu caráter e o caráter do seu governo.
Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz (Isaías 9.6).
O Contexto da Passagem
O contexto geral desta passagem pode ser resumido como sendo um ambiente dominado pelo pecado e desprezo contra Deus. O resultado mais evidente desta situação é a injustiça social praticada nos reinos de Israel e Judá.
Essa injustiça e esse modelo pecaminoso nasceram da soberba dos filhos do povo de Deus. Os homens se tornaram altivos e seus pensamentos caminharam para longe de Deus. Eles escolheram trilhar os seus próprios caminhos e desprezarem o de Deus. O engano e a corrupção eram as ferramentas dos governantes e do sacerdórcio e dos falsos profetas, que dominavam a religiosidade insincera dos homens e mulheres israelitas.
Todo o povo o saberá, Efraim e os moradores de Samaria, que em soberba e altivez de coração dizem: os tijolos ruíram por terra, mas tornaremos a edificar com pedras lavradas, cortaram-se os sicômoros, mas por cedros substituiremos (Isaías 9.9-10).
Ai dos que decretam leis injustas, dos que escrevem leis de opressão, para negarem justiça aos pobres, para arrebatarem o direito aos aflitos do meu povo, a fim de despojarem as viúvas e roubarem os órfãos! (Isaías 10.1).
No contexto da profecia, temos também a palavra de Jehovah que estes males do seu povo seriam corrigidos mediante dura repreensão do Senhor e que para tal, Ele suscitaria um inimigo poderoso para ser a sua vara de correção. O profeta anuncia a invasão Assíria.
Ai da Assíria, cetro da minha ira! Avara em sua mão é o instrumento do meu furor. Envio-a contra uma nação ímpia e contra o povo da minha indignação lhe dou ordens, para que dele roube a presa, e lhe tome o despojo, e o ponha para ser pisado aos pés, como a lama das ruas (Isaías 10.5-6).
Mas, ainda que a Assíria sirva como instrumento do Senhor, também por sua arrogância pagaria, pois Deus, usaria a arrogância da Assíria para transformar o seu povo, mas não deixaria a própria Assíria sem sofrer a penalidade por seus próprios pecados.
Por isso, acontecerá que, havendo o Senhor acabado toda a sua obra no monte de Sião e em Jerusalém, então, castigará a arrogância do coração do rei da Assíria e a desmedida altivez dos seus olhos (Isaías 10.12).
Portanto, o profeta tem em mente todos estes elementos: o pecado do povo, a correção de Deus e a final redenção de seu povo, por meio da mudança do coração e a destruição dos seus inimigos.
O governo do Messias acontecerá dentro de todos estes elementos e todos eles deverão ser levados em conta no modo de vida do povo da Aliança. Eles eram, então, chamados a viver nessa santa expectativa: Deus agirá para mudar o nosso coração, mas nos dará vitória. Esperança e quebrantamento eram dois elementos que se distinguiam dentro dos propósitos de Deus para o seu povo.
O estabelecimento do governo do Messias era a mudança final que todos esperavam para deixar o caos e seguir ao equilíbrio da paz sem fim.
A Mente Redencional na Passagem
Mantendo o interesse em como o povo daqueles dias deveria reagir, sem entrar em discussões mais detalhadas ou exegéticas da passagem, o que precisamos notar é que o profeta está sendo instrumento para desenvolver uma mentalidade de confiança a despeito do caminho apertado que teriam de trilhar. Aliás, essa foi uma tônica sempre recorrente nos profetas: fazer o povo crer, a despeito das adversidades.
A mente redencional e o quebrantamento
Era necessária uma clara consciência do problema real enfrentado pelo povo de Deus. Não se tratava apenas de um problema geopolítico, ou meramente social. O que estava acontecendo àquele povo era um caos produzido por um distanciamento profundo de sua relação com Deus.
Acaz, rei de Judá, sofre pressões políticas de duas nações da sua região: Síria e Israel. O próprio país irmão, Israel, tinha se tornado aliado da Síria contra Judá. Judá, por sua vez, em lugar de buscar confiar em Deus, procurou uma solução política, procurou aliar-se a uma nação mais poderosa: a Assíria.
O que Deus busca de seu povo não é uma confiança lastreada por sua capacidade pessoal ou de qualquer outro homem. Deus buscava que seu povo abandonasse qualquer confiança humana e depusesse nEle as suas esperanças (ver Isaías 8.1-8).
A mente redencional e a fé
Quando pensamos de forma isenta, temos de admitir que Acaz, estava, por assim dizer, fazendo o que outros líderes seriam tentados a fazer: procurar ajuda em alguém que pudesse fazer frente aos seus inimigos. Algumas vezes é isso que devemos fazer, contudo, no caso, Deus enviara o seu profeta e exigia que lhe dessem ouvidos.
Ao Senhor dos Exércitos, a ele santificai; seja ele o vosso temor, seja ele o vosso espanto. Ele vos será santuário; mas será pedra de tropeço e rocha de ofensa às duas casas de Israel, laço e armadilha aos moradores de Jerusalém (Isaías 8.13-14).
Confiar no Senhor era tudo o que o Senhor esperava do seu povo. Essa fé estaria despontando mediante a transformação que estava em curso. Ou seja, todo o processo de quebrantamento tem como objetivo desconstruir a falsa esperança e construir uma esperança no Senhor.
A mente redencional e o Messias
Os filhos de Israel deveriam confiar em Deus e esperar pela manifestação deste agente divino, o Messias. Eles deveriam esperá-lo e preparar-lhe a chegada, por meio de uma constante expectativa e a manutenção constante da esperança.
Ele lhes restauraria a alegria e a justiça na terra. Ele destruiria os inimigos e estabeleceria paz sobre toda a terra.
Um dos pontos mais importantes da revelação do Messias foi o nome que o profeta anunciou.
Maravilhoso Conselheiro - Essa expressão, primeiramente chama a atenção para o fato de que o Messias não era apenas um líder comum, de alguma escola humana. O que eles deveriam entender por "Maravilhoso" é que era singular, totalmente distinto dos homens. Veja Isaías 25.1 e note que na verdade, o governo do Messias será baseado em sua maravilhosa sabedoria, que deveria ser esperada como algo totalmente incomum.
Deus Forte - O termo hebraico é "El Gibbor" e aponta para a natureza divina do Messias. Ele não seria um homem comum, apesar de sua humanidade estar claramente anunciada na expressão "um menino nos nasceu", ele agora é apontado como sendo "divino". Ele é forte por ser capaz de destruir os inimigos e também converter o coração do seu povo (veja Isaías 10.21).
Pai da Eternidade - o agente messiânico referido no texto tem a eternidade como parte de sua natureza. Ele é o único capaz de estabelecer uma paz sem fim e um governo duradouro. Aqui, se destaca sua capacidade de realmente estabelecer um reino eterno, pois ele domina a eternidade.
Principe da Paz - Ele é o governante, que deriva o seu governo de Deus e tem como objetivo o estabelecimento da paz em substituição ao caos, que estava presente na experiência dos filhos de Deus naqueles dias. Este nome aponta para o fato de que o seu governo tem como objetivo a paz sem fim, baseada na vontade do Altíssimo.
A mente redencional e os Nosso Dias
Não muito diferente dos filhos de Israel nos dias de Isaías, nós também vivemos a experiência do caos originado no distanciamento entre Deus e os homens. A injustiça social e as guerras do nosso mundo são apenas algum dos reflexos destes problemas radicais.
Somos hoje, chamados a crer no Messias de uma maneria ainda mais intensa. Afinal, diferentemente daqueles homens, nós já conhecemos muito mais da revelação do Messias, inclusive sabemos que ele já veio e que o seu governo já é real, embora invisível e espiritual.
Precisamos ter a mente controlada pelos mesmos aspectos: quebrantamento e fé. Também precisamos confiar no Messias e em todas as suas particulares capacitações para produzir uma eternidade mais justa e cheia de paz para nós.