quarta-feira, 9 de abril de 2014

O Coração nas Escrituras

1 – O significado abrangente do coração nas Escrituras
Começaremos nossa abordagem sobre o tema “O coração para crer”, procurando fazer uma análise geral do significado de “coração nas Escrituras”.
Platão foi um dos mais importantes filósofos da antiguidade. Conta-se que, na busca de conceituar o homem, teria afirmado aos seus alunos: “o homem é um bípede implume”. Diógenes de Sínope, conhecido por moral em um tonel e que com uma lanterna na mão procurava um homem honesto, depenou uma galinha e lançou-a entre todos dizendo: “eis aí o homem de Platão”.
O homem, com certeza, é um ser complexo e não pode ser definido meramente em termos de uma ou outra das facetas de sua constituição. Não podemos dizer apenas que é um animal, nem tampouco resumi-lo dizendo que é um animal racional, ou apenas um ser gregário. O homem é um emaranhado de definições.
Da mesma sorte o conceito de coração é extremamente amplo nas Escrituras, pois, se o coração é o centro da vida humana, assim como a vida humana é complexa, o coração também o é.

A – O Coração como o centro da vida humana
O homem é descrito na Bíblia como um ser constituído dos elementos “matéria” (corpo) e “não matéria” (alma e espírito). Estes dois elementos juntos constituem a totalidade do homem. E dificilmente nos é dito como é que eles se unem, como se tornam uma só coisa, o que realmente faz o elo entre o que imaterial e material em nossa constituição humana.
Quando procuramos este elo de ligação entre a parte imaterial e material do homem nas Escrituras, descobrimos que o conceito que mais se aproxima destes elementos e os une é o conceito de “coração humano”.
O coração é para a escritura a totalidade do homem. Note em Hebreus 4.12. O autor, considerando a atuação da Palavra de Deus, diz que seu poder atua na parte imaterial (alma e espírito) e na parte material (jutas e medulas), por fim, trata estas partes discernindo os propósitos do “coração humano”.
Para o sábio Salomão, o coração é o ponto chave a ser guardado pelo homem, porque do coração procedem todas as saídas da vida (Pv 4.23). Ele também ensina que Deus espera a totalidade do homem e lhe pede o coração como oferta (Pv 23.26).
O salmista, por sua vez, diz que o homem que se agrada em ter o Senhor tem um coração satisfeito (Sl 37.4). Isto implica em dizer que o homem estará satisfeito. Veja como o conceito entre o que é o homem e o coração do homem são próximos.

B – O Coração como centro da intelectualidade humana
Seguindo no diapasão da complexidade do homem e do coração humano, veremos que uma das facetas bíblicas sobre o que é o coração humano é que ele é um centro de atividade intelectual (Pv 2.10).
Moisés declara ao povo que sua falta de entendimento do agir de Deus era decorrente de uma falta de entendimento do coração humano (Dt 29.4). O profeta Isaías diz que o endurecimento do coração para o entendimento da mensagem de Deus era o responsável pela incredulidade do povo de Jehovah (Is 6.10). Muitos outros textos também nos dão conta de que o coração é sede de atividade intelectual (Hb.4.12; At 8.22; Rm 1.21).

C – Coração como centro da vontade humana
O coração, sendo um elemento central da vida humana, só poderia também ser definido como a sede da vontade humana e todas as suas escolhas.
Os desígnios ou decisões humanas são consideradas produto da atividade do coração humano (1Co 4.5; Gn 6.5). Pois é o coração a sede da decisão de seguir as ordens e caminhos de Deus (Dn 1.8; At 11.23). Era a unidade de coração uma marca de uma igreja que pensava a mesma coisa e desejava ou idealizava a mesma coisa (At 4.32).
Da mesma sorte que a boa vontade tem o lugar decisório no coração, assim também a dureza do coração torna o homem de má vontade para com Deus (Rm 4.5; Jr 18.12).
Enfim, vemos nas Escrituras que a atividade volitiva tem como sede decisória o coração humano. O homem, portanto, quando idealiza algo e o deseja, o faz segundo os desígnios de seu coração, onde sua vontade é formada.

D – Coração como centro das emoções humanas
As emoções são as reações básicas e instintivas do ser humano decorrentes das percepções das coisas exteriores. Essas reações podem ser processadas na mente humana e se tornar em sentimentos, que já são processos mais elaborados para as emoções iniciais.
Nas Escrituras, o coração é também o lugar do processamento destas emoções. Evidentemente, elas perpassam a atividade intelectual e se tornam sentimentos, afetos do coração. O medo, por exemplo, é qualificado como sendo sentido no coração (Jo 14.1). Da mesma forma, a alegria (Sl 16.9; At 2.26).
O rei disse sobre Neemias que sua tristeza devia vir do coração (Ne 2.2), assim também Paulo admite que muitas das suas angústias tinham a sede em seu coração (2Co 2.4). Outros textos também indicam o coração como um lugar de produção das emoções (Pv 15.13; Is 65.14).
Outros sentimentos também são considerados como gerados no coração: inveja (Pv 23.17); ansiedade (Lv 26.36); força e coragem (2Sm 7.10).


2 – O Coração como o centro da contaminação do pecado
Ainda trataremos deste assunto de forma mais detida noutra lição, mas adiantaremos aqui os conceitos mais elementares desta corrupção do coração humano.

A – O coração humano está corrompido pelo pecado
O primeiro texto bíblico que contem o vocábulo “coração” (Gn 6.5) aponta para o coração como profundamente corrompido pelo pecado. E este é um pensamento recorrente da Escritura para se referir ao coração humano em rebeldia em relação a Deus (Jr 17.9).
Jesus aponta o coração como a sede de todos os males que condenam e destroem o homem (Mc 7.21-23). E Paulo diz que o coração do homem se tornou obscurecido e insensato (Rm 1.21).

 O pecado agiu primariamente corrompendo a fonte de todas as saídas da vida humana (Pv 4.23). A partir deste ponto, a corrupção atingiu toda as faculdades do homem, contaminando sua vontade (Rm 3.10-18) e destruindo sua capacidade de dar ouvidos a Deus (2Rs 17.14).



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